O Amor de Sylvie resgata o romance dos filmes antigos.
O diretor e roteirista Eugene Ashe, em seu segundo longa ficcional, traz para as telas aquele drama romântico que víamos na Hollywood clássica. Nesse sentido, temos um casal protagonista separado pelas classes sociais diferentes e pelos rumos opostos que tomam em suas vidas.
Um músico e uma produtora de TV
Acima de tudo, o que O Amor de Sylvie apresenta de mais interessante são as profissões dos dois personagens principais. Sylvie Parker trabalha numa loja de discos da família em Nova York, no final dos anos 1950. Seguindo as recomendações da mãe, ela é noiva de um rapaz de família rica. Apesar disso, ela almeja ser mais do que uma mera dona de casa. No fundo, sua ambição é ser uma produtora em uma emissora de televisão.
Além disso, o noivado arranjado não a impede de se apaixonar por Robert Halloway, o jovem que seu pai contrata para trabalhar na loja. Adicionalmente a esse emprego, Robert é saxofonista de uma banda de jazz.
Então, mesmo preocupada em seguir o encaminhamento da mãe, Sylvie se entrega à paixão por Robert. Como resultado, fica grávida. Mas esconde esse fato do amante e se casa com o noivo, que aceita a filha fora do casamento. Contudo, os destinos de Sylvie e Robert voltarão a se encontrar. Paralelamente, ela sobe na carreira de produtora televisiva, enquanto o declínio do prestígio do jazz afeta a vida de músico de Robert.
Romance de erros
No contexto da trama romântica, surgem vários empecilhos que impedem o desenvolvimento do amor entre Sylvie e Robert. E muitos deles envolvem as coincidências ruins que afastam o casal. Por exemplo, quando Sylvie se atrasa e chega após o final da apresentação de Robert, que pensa que ela não aceitou o seu convite. Justamente quando ele conversa com uma ex-namorada, ela chega. Enfim, há várias situações deste tipo no filme, soluções típicas dos filmes tradicionais do gênero.
Porém, essa falta de originalidade e o tom demasiadamente leve não chegam a prejudicar O Amor de Sylvie. Na verdade, o seu ponto fraco é a falta de picos emocionais. Em outras palavras, o filme é muito morno. E parte desse efeito vem da predominância de cenas em que acompanhamos separadamente os dois protagonistas, lidando com a carreira e dilemas pessoais. Adicionalmente, quando os dois estão juntos, não sentimos aquela paixão incontrolável entre eles. E isso resulta da ausência da construção do clima pelo diretor, principalmente.
Ao mesmo tempo, a temperatura morna é consequência também da interpretação dos atores principais. Por um lado, Tessa Thompson até se esforça. E tenta provar sua capacidade dramática, oportunidade ausente nos frequentes papeis em filmes de ação de sua carreira. Nesse sentido, ela se destaca na cena em que ela briga com Robert após seu retorno de Detroit. Ao seu lado, porém, Nnamdi Asomugha está bem insosso. Definitivamente, sem carisma natural, ele não consegue construir um personagem com charme suficiente para justificar o grande amor de Sylvie.
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Ficha técnica:
O Amor de Sylvie (Sylvie’s Love, 2020) EUA. 114 min. Direção e roteiro: Eugene Ashe. Elenco: Tessa Thompson, Nnamdi Asomugha, Eva Longoria, Aja Naomi King, Jemima Kirk, Tone Bell, Regé-Jean Page, Alano Miller, Raquel Horsford, Erica Gimpel.
Distribuição: Prime Video.