O Anel de Eva leva para as telas o arrepiante tema dos nazistas que, após a 2ª Guerra Mundial, se refugiaram no Brasil. Filmado no estado do Mato Grosso, nas cidades de Cuiabá e Cáceres, o longa é o primeiro do diretor Duflair Barradas.
No enredo, Eva Vogler (Suzana Pires), recebe de seu pai adotivo, que acaba de morrer, uma caixa misteriosa contendo fotos e um anel com um brasão nazista com a inscrição “Eva, 1945”. Com a ajuda da sobrinha e da namorada dela, que pesquisa o nazismo, Eva investiga como esses objetos podem estar relacionados à sua origem. Logo, descobrem que esse passado está ligado à Fazenda do Alpendre. Nesse local mora Martin Hirsch (Odilon Wagner), que costuma expulsar os invasores de sua terra com tiros de espingarda.
As investigações de Eva, Aurora (Laize Câmara) e Isabella (Lis Luciddi) carregam a trama com interesse crescente. Afinal, as suas descobertas levam a um segredo sombrio, ligado ao nazismo. Mas, o filme desvia dessa linha narrativa para criar um perigo maior para as personagens, com a intenção de assim inserir mais ação na trama. Contudo, dessa forma, a emoção despenca, porque os eventos soam forçados demais. É improvável que o vilão, considerando sua doutrina, resolvesse manter em cativeiro suas vítimas, ao invés de liquidá-las e sumir com seus corpos. E, mais ainda, a fala artificial para revelar os segredos sobre o nascimento de Eva. O roteiro ainda causa estranheza com a elipse de tempo entre a decisão de as personagens investigarem a fazenda e a cena seguinte já com as pessoas notando o desaparecimento delas.
Premissa se esvai
Faltou também atenção aos objetos de cena. No apartamento de Aurora, por exemplo, há livros de cinema na estante, o que aparentemente não tem relação com a personagem (talvez porque o imóvel pertença a alguém da equipe da produção do filme). E, ainda mais, um poster de A Outra História Americana (American History X, 1998), de Tony Kaye, que seria uma referência óbvia, mas que faria sentido se estivesse na moradia da professora Isabella. De qualquer forma, serve para reforçar a crítica ao nazismo e aos preconceitos. Nesse sentido, concorrem o velho Martin que joga uma indireta sobre a mestiça Eva, e o pai de Aurora que rejeita a filha por ela ser gay.
Naquele trecho no apartamento, chama a atenção, negativamente, a filmagem com a câmera trêmula, cacoete do cinema contemporâneo que já cansou. Principalmente quando usado como aqui, balançando o equipamento como se a cena acontecesse em um barco. Em outro momento, já perto da conclusão, Eva invade a propriedade de Martin, desconfiada de que Aurora e Isabella estão ali. Entra no mato à noite, em cena filmada com luzes e sombras, de forma confusa. Eva atira, mas não sabemos em que mira, pois não há um plano mostrando sua perspectiva. No confronto, um problema similar se repete.
A boa premissa acabou sofrendo com a direção e o roteiro, e assim, O Anel de Eva acaba sendo uma experiência abaixo do que o seu tema poderoso merecia.
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Ficha técnica:
O Anel de Eva | 2022 | Brasil | 90 min | Direção: Duflair Barradas | Roteiro: Eduardo Ribeiro, Pedro Reinato | Elenco: Suzana Pires, Odilon Wagner, Laize Câmara, Sandro Lucose, Regina Sampaio, Lis Luciddi, Luciano Bortoluzzi, Rafael Golombek, Amauri Tangará.
Distribuição: Elo Studios.
O Anel de Eva estreia dia 13 de junho de 2024 nos cinemas.
Assista ao trailer aqui.