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O Ano da Morte de Ricardo Reis (filme)
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O Ano da Morte de Ricardo Reis

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

O filme O Ano da Morte de Ricardo Reis leva para as telas o livro que José Saramago escreveu sobre esse heterônimo de Fernando Pessoa. Aliás, o único cuja data de falecimento Pessoa não definiu, o que abriu a oportunidade para Saramago criar essa história.

A história

No dia 29 de dezembro de 1935, Ricardo Reis retorna para Lisboa após passar 16 anos no Brasil. Há aproximadamente um mês, seu criador, Fernando Pessoa encontrou a morte. Mas, ele retorna como fantasma para conversar com seu heterônimo.

Ricardo Reis se instala, provisoriamente, no Hotel Bragança. Lá, ele inicia uma relação carnal com Lídia, a empregada do estabelecimento. Ao mesmo tempo, corteja a filha de um hóspede, a jovem Marcenda, que tem o braço esquerdo paralisado. Porém, o estoico personagem não se deixa dominar pelas paixões, e não mergulha a fundo nesses relacionamentos. Fernando Pessoa, que o conhece bem, surge em visitas recorrentes para conversas sobre a vida e a morte.

Enquanto isso, o filme revela o período de transformações políticas na Península Ibérica. O crescente fascismo de Salazar e Franco domina os noticiários e as conversas, e alcança Ricardo Reis. A polícia o interroga, informalmente, para investigar o estranho paradeiro deste português que saiu do país quando se instaurou a República e que agora retorna no meio dessa revolução. Nesse quesito, o braço esquerdo paralisado de Marcenda poderia simbolizar o efeito da dominação da extrema direita na região. Afinal, essa personagem pertence à burguesia, que apoia os fascistas, como Ricardo Reis testemunha em um comício político.

Direção

A carreira do experiente diretor João Botelho transita entre trabalhos para cinema e para a televisão, na ficção e no documentário. Costuma filmar sem recorrer a movimentações rebuscadas da câmera, privilegiando o diálogo. Característica que, aliás, se encaixa perfeitamente em O Ano da Morte de Ricardo Reis, uma adaptação literária que preserva o rebuscamento da escrita nas falas dos seus personagens. Mas, mesmo com esse estilo contido na direção, sentimos que precisamos de mais tempo para examinar devidamente as sentenças que foram originalmente escritas para serem lidas.

Visualmente, destaca-se a fotografia em preto e branco, de João Ribeiro. As suas tonalidades fortes imprimem uma sofisticação própria ao tema, enquanto Ricardo Reis está vivo. Assim, contrasta com o epílogo das cores esmaecidas no cemitério, que, por sinal, contrastam com o pavão, símbolo do orgulho que não permitiu ao protagonista viver suas paixões.

As atuações são soberbas, em papéis complexos. Em especial, os de Ricardo Reis e de Fernando Pessoa. Seus intérpretes, o ator mexicano Chico Díaz, que fez sua carreira no Brasil, e Luís Lima Barreto, conseguem construir figuras que não traem o imaginário de quem acompanha as suas obras.

Em suma, O Ano da Morte de Ricardo Reis é uma adaptação que não se afasta da obra literária. Portanto, quem já conhece os textos, poderá apreciar melhor, mas o filme é acessível para todos.

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Ficha técnica:

O Ano da Morte de Ricardo Reis (2020) Portugal, 129 min. Direção e roteiro: João Botelho. Elenco: Chico Díaz, Luís Lima Barreto, Catarina Wallenstein, Victoria Guerra, Hugo Mestre Amaro, João Barbosa, Rui Morrisson.

O Ano da Morte de Ricardo Reis (filme)
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