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O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (filme)
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O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Agora que teremos novamente um militar como presidente, somos instigados a (re)visitar O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. O filme traz um relato do período da ditadura militar no Brasil pelos olhos de um menino de 12 anos.

Seu nome é Mauro (Michel Joelsas) e o ano é 1970. Alguns dias antes do início da Copa do Mundo, seus pais o levam de Belo Horizonte, onde moram, para a casa do avô no bairro paulistano do Bom Retiro. Como estão com muita pressa, deixam o menino na porta do edifício e partem para o que alegam ser uma viagem de férias. Ao subir, ele descobre que o avô acaba de falecer, e o vizinho Schlomo (Germano Haiut) o acolhe, a contragosto. A relação entre os dois, de início, é conflituosa.

Aos poucos, Mauro aprende a conviver com o novo protetor e com sua religião, judaica, que dominava o bairro. Faz novas amizades e conhece o bairro, mas ainda se angustia com a ausência dos pais. Fanático por futebol, não perde nenhum jogo da seleção, em televisores preto e branco. Aos poucos, porém, vai perdendo a inocência em relação à violenta repressão do governo militar.

Nostalgia

Apesar do pano de fundo político, a nostalgia se sobressai no filme. Começa com o menino brincando sozinho com futebol de botão, uma das diversões preferidas da garotada nessa década, junto a uma narração em off do próprio garoto. Quando ele parte apressadamente com os pais em direção a São Paulo, Mauro recolhe rapidamente seus jogadores de botões, mas esquece os goleiros, e a câmera fica fixa neles, depois que os personagens saem de cena. É uma informação importante, e o diretor Cao Hamburger quer que o espectador se lembre dela. Perto do final do filme, Mauro reencontrará os goleiros e também descobrirá o que aconteceu com os seus pais.

O filme possui uma carga emocional muito poderosa. O fato de o protagonista ser uma criança já garante essa sensibilidade, que ainda é reforçada pela trilha sonora de Beto Villares, com ritmo lento e tocada com violão e flauta. Por cima de tudo, ainda há a nostalgia para quem viveu nesse período, principalmente para aqueles da comunidade judaica, agraciada com algumas falas em iídiche e hebraico. O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias parece adotar o gênero das aventuras de um menino, mostrando suas peripécias com seus amigos, em especial a divertida menina que mora no mesmo prédio do seu avô, e como ele se vira sozinho sem a ajuda dos pais.

Abuso da ditadura

Somente após se passarem noventa minutos de filme, surgem indícios das práticas abusivas da repressão militar, fechando o centro acadêmico onde trabalha um estudante universitário que Mauro conhece, que acaba ferido no confronto com a polícia. O menino começa, então, a entender o ambiente político em que vive, e se preocupa com os pais. O cerco da investigação policial contra possíveis insurgentes vai se fechando, até aquela cena comentada acima que envolve os goleiros de botão, e, a partir daí, até mesmo a final da Copa do Mundo perde seu encanto diante da realidade mais próxima.

Delicadeza

Cao Hamburger conduz o filme com delicadeza. A morte do avô é contada inteligentemente através de um flashback, substituindo a tragédia por um tom de farsa – afinal, o menino não era tão apegado ao avô. Mas, por isso, desperdiça a oportunidade de elevar a sensação de perigo que ameaçava a todos que eram contra o regime que estava no poder. Perde, assim, o potencial de drama de cenas como a da abordagem dos policiais sobre os estudantes, e o estado físico da mãe.

Pela nostalgia, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias encanta. Mas, se você procura uma denúncia forte sobre o desaparecimento de pessoas durante o regime militar brasileiro, poderá se sentir frustrado. A denúncia está no filme, mas sem intenção de provocar reações fortes, apenas de registrar. Outros filmes abordam o tema com mais contundência, como O Que é Isso, Companheiro? (1997) e Batismo de Sangue (2006).


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