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O Baile das Loucas (filme)
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O Baile das Loucas

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Além de atriz consagrada, Mélanie Laurent também assume ocasionalmente a direção. O Baile das Loucas (Le Bal des Folles, 2021) já é o seu quinto longa-metragem. O filme traz um retrato sem filtros das desumanas instituições psiquiátricas europeias no final do século 19.

O roteiro se baseia no livro de Victoria Mas, que por sua vez se inspira em fatos que aconteceram no Hospital Pitié-Salpêtrière. O local, exclusivo para mulheres com problemas psiquiátricos, foi palco dos experimentos liderados por Jean-Martin Charcot, conhecido como o pai da neurologia moderna. Entre as intervenções médicas, elencavam-se sangrias, imersões em água gelada, hipnose e reclusões em celas solitárias e escuras.

A fotografia esmaecida do filme providencia a textura ideal para acompanharmos o sofrimento de Eugénie Cléry. A jovem de família nobre acaba no Salpêtrière por ordem do seu pai. Oficialmente, porque ela alega ver espíritos, mas também porque ele a considera inoportuna perante a sociedade. Desconfortável com o papel que deve desempenhar no círculo social, Eugénie é uma mulher à frente de seu tempo. Prefere ir sozinha ao enterro do escritor Victor Hugo, do que se preparar para um casamento arranjado. Mas, sua rebeldia tornará sua internação ainda mais dura.

Atrizes

Quem interpreta Eugénie Cléry é Lou de Laâge, de Branca como a Neve (Blanche Comme Neige, 2019). A atriz já atuara sob a direção de Mélanie Laurent, em Respire (2014). Desta vez, Laâge ainda contracena com Laurent, pois esta vive Geneviève Gleizes, a enfermeira-chefe do Salpêtrière. Aliás, Laurent reserve para si mesma a personagem mais interessante de O Baile das Loucas. No início, Geneviève se assemelha às suas colegas, igualmente dura e insensível com as pacientes. Porém, o contato com Eugénie e sua mediunidade desmonta, gradativamente, essa sua fachada. Esse processo se inicia quando a jovem permite que Geneviève se comunique com sua irmã falecida.

Fisicamente, essa transformação desponta nos cabelos de Geneviève. A princípio, sempre presos, mas que se soltam à medida em que derruba sua rigidez. A aceitação da mediunidade é vital em sua abertura, e isso fica evidente quando ela lê, com os cabelos soltos, o “Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, que recebe de Théophile Cléry (Benjamin Voisin) para ser entregue à irmã Eugénie. Além disso, o comportamento de Geneviève se torna mais flexível, aliviando o sofrimento de Eugénie mesmo que, para isso, viole as regras do hospital. Da mesma forma, ela permite que uma das internas termine o seu canto espontâneo na igreja.

Leveza

A leveza representa a palavra-chave para a transformação de Geneviève. Sua própria irmã morta usa o termo para lhe endereçar um conselho. E, numa bela cena, vemos a personagem abrindo as portas de sua casa e se deparando com os primeiros flocos de neve caindo lentamente do céu. Então, a profundidade da enfermeira-chefe culmina em sua decisão de permanecer no Salpêtrière, na condição agora de interna, mesmo tendo a oportunidade de fugir. O filme não esclarece o motivo, mas talvez seja por algum sentimento de culpa por ter feito parte desse sistema. Aliás, a diretora Mélanie Laurente também prefere nunca mostrar o que a protagonista Eugéne vê quando tem contatos com os espíritos. Com isso, coloca nas mãos do espectador decidir sobre essa possibilidade.   

Por outro lado, Laurent não deixa em aberto a subtrama do médico que abusa sexualmente de uma das internas. Este recebe sua punição lá dentro do hospital. Para este crime, não deve existir final aberto, assim determina o filme. Dessa forma, com uma direção clássica e funcional, Laurent dá seus recados contra esses horrores do passado, a fim de que nunca mais se repitam no futuro.


O Baile das Loucas (filme)
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