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O Colibri (filme)
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O Colibri | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

No final dos anos 1980 e começo dos 1990, Francesca Archibugi era uma promessa de renovação do cinema italiano. Infelizmente, não vingou. Seu melhor filme ainda é o primeiro que realizou, O Jogo de Mignon (Mignon è partita, 1988).

Em 2015, dirigiu O Nome do Filho (Il nome del figlio), refilmagem medíocre de um longa francês igualmente medíocre, Qual é o Nome do Bebê? (Le Prénom, 2012), de Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte. Parecia caso perdido.

Eis que agora, após dois longas e uma minissérie não vistos, estreia no Brasil seu mais recente longa, O Colibri (Il Colibri). E nas primeiras imagens, já percebemos não estar diante de um filme qualquer. Os movimentos insistentes da câmera até nos fazem pensar em inadequação, pois se prestam mais a um temperamento maneirista do que ao melodrama que parece se desenrolar. Logo depois, tudo se ajeita.

A câmera passeia como um fantasma por vidas que se encontram e se modificam por esses encontros, no passado e no presente. Ou nos passados, plural, pois o que achávamos que era presente se torna passado não pelo decurso do tempo, mas pelo embaralhamento que o filme faz sem cerimônia.

O que veremos em pouco mais de duas horas de idas e vindas no tempo – pistas lançadas à espera de uma compreensão geral – é a vida de Marco, apelidado “Colibri”, da infância à velhice. Por vezes, imagens sem qualquer sentido aparente só serão compreendidas muito mais tarde.

Cronologia embaralhada

Começamos num dos tempos passados, quando percebemos que dois irmãos, Marco e Giacomo, amam a mesma moça, a moderna Luisa. A irmã mais velha deles, Irene, passa por sérios problemas com drogas. Ela vai até o mar e parece buscar o suicídio. O corte nos informa disso com menos intensidade que os cachorros chorando enquanto ela cumpre o ritual.

Mais adiante, veremos como Marco, um dos irmãos do início e protagonista do filme, ainda menino, salva a vida de sua irmã num dia em que ela desce, intuímos, disposta a se suicidar. Ele pressente que algo está errado e não sai de perto dela até que ela desista e volte para casa. É um dos momentos mais belos do filme. Marco, como os cães, sentiu que algo estava errado, que aquele abraço no pai tinha cara de despedida.

Percebo que estou a embaralhar a cronologia dos eventos tal como Archibugi o fez. Embaralhamento em cima do embaralhamento. Convite ao caos. Voltemos então, brevemente, à cronologia proposta pelo filme.

Após o que descobriremos logo adiante ter sido um suicídio, vamos para Marco mais velho. Agora médico, ele recebe a visita do psicanalista de sua esposa, papel de Nanni Moretti. A conversa entre eles joga o filme num outro campo, de mistério e até uma ameaça de horror. Será esse o caminho? Não parece. É, entretanto, outro momento marcante.

Fácil de ver

O filme segue embaralhando os tempos e criando um quebra-cabeça em torno de Marco. As peças vão se juntando e por vezes a junção não faz muito sentido. O que mais nos interessa passa a ser os tipos criados com algum sucesso, sem pensar nas ligações que esses tipos têm com os outros: o jovem que pressente coisas ruins como a queda de um avião, o psicanalista enigmático, o irmão discreto, a menina que pensa ter um fio prendendo-a na parede, a criança que corta o azar numa noite de jogos.

Archibugi ainda sofre pressões do cinema contemporâneo. Lamentável o pedágio pago com personagens dançando e personagem vomitando. Parece que nenhum filme contemporâneo sai do papel sem cenas como essas.

Mas o filme se deixa ver com facilidade, sem nos aborrecer em momento algum (nem mesmo numa lição de moral perto do fim), e pode ter avançado algumas casas em direção à boa forma do início de sua carreira.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

O Colibri | Il Colibri | 2022 | 126 min | Itália, França | Direção: Francesca Archibugi | Roteiro: Francesca Archibugi, Laura Paolucci, Francesco Piccolo | Elenco: Pierfrancesco Favino, Kasia Smutniak, Bérénice Bejo, Nanni Moretti, Laura Morante, Sergio Albelli, Massimo Ceccherini, Alessandro Tedeschi, Benedetta Porcaroli.

Distribuição: Pandora Filmes.

Trailer:
O Colibri

(foto/divulgação: créd. Enrico de Luigi)

Onde assistir:
O Colibri (filme)
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