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O Estranho (filme)
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O Estranho

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

“O Estranho” pertence à fase mais enciclopédica de Orson Welles, que engloba filmes que são verdadeiras aulas de linguagem cinematográfica. Esse período se inicia com seu longa de estreia, o até hoje reverenciado “Cidadão Kane” (1941), e revela um cineasta zeloso com cada plano de seu filme. De fato, Welles estudava meticulosamente para empregar a gramática do cinema no intuito de contar a estória. Essa preocupação é evidente em “O Estranho”. Porém, este é um filme menor em sua carreira devido ao roteiro não tão bom escrito por Anthony Veiller, a partir de uma estória de Victor Trivas.

A princípio, o argumento do filme “O Estranho” é audacioso. E, surpreendentemente atual para a época, pois aborda, apenas um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial, a fuga dos nazistas derrotados para outros países. Charles Rankin (Orson Welles) é um deles. Ele se esconde em uma pequena cidade dos EUA, onde assumiu uma outra identidade como professor de ginásio. Agora, está até prestes a se casar com Mary Longstreet (Loretta Young), filha de um juiz. Porém, um ex-companheiro que é perseguido pela equipe de espionagem de Mr. Wilson (Edward G. Robinson) estraga seu disfarce, pois esse Mr. Wilson segue todos os seus passos, desde um país latino, até o destino atual.

Essa estória mantém a tensão do início até o momento em que Mr. Wilson descobre a identidade verdadeira de Charles Rankin. A partir daí, o filme se arrasta, quase sem empurrar a estória para frente. Por fim, constrói eficientemente o suspense da conclusão, ainda que prejudicado pela inexplicável voluntariedade de Mary Longstreet em se colocar em situação de perigo.

A direção de Orson Welles

E Orson Welles, como genial cineasta, consegue tirar o melhor deste roteiro falho, criando suspense onde um diretor menos talentoso jamais conseguiria. Tome, por exemplo, a cena da escada na torre do relógio, em que vemos o vilão Rankin serrar um dos degraus mais altos para criar uma armadilha. Quando um dos personagens começa a subir essa escada, já está criada a expectativa em cima do perigo que ele corre, porque temos essa informação que ele não tem.

Em termos visuais, Welles emprega com maestria as sombras, principalmente na sequência inicial quando o nazista é perseguido no país latino. Outro uso marcante desse recurso está na grande sombra de Mary na parede da sala, quando Rankin volta para casa pensando que ela está morta. Além disso, Welles utiliza o plongée, a câmera colocada no alto, como se fosse um ser superior julgando quem está lá embaixo, quando Rankin enterra a vítima que ele assassinou.

O final ainda guarda uma interpretação simbólica, porque o vilão morre quando a espada do anjo do relógio da igreja perfura sua barriga. Afinal, Rankin era obcecado por relógios, como era em relação ao nazismo, e o anjo o pune como um ser enviado por deus para castiga-lo.

Mesmo não sendo um dos melhores de Orson Welles, o filme “O Estranho” comprova o talento dele como diretor. Sem dúvida, capaz de inserir sua marca autoral em um roteiro fraco para produzir uma obra de qualidade.


 
Ficha técnica:

O Estranho (The Stranger, 1946) EUA 95 min. Dir: Orson Welles. Rot: Anthony Veiller. Elenco: Orson Welles, Loretta Young, Edward G. Robinson, Philip Merivale. Richard Long, Konstantin Shayne, Byron Keith, Billy House, Martha Wentworth.

Leia também: crítica do filme “Soberba” de Orson Welles

Onde assistir:
o Estranho (filme)
o Estranho (filme)
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