Os rumores sobre Cotton Club se confirmam. O filme lançado em 1984 é uma versão mutilada da ideia original do diretor Francis Ford Coppola. O diretor cedera às pressões dos produtores para dar mais ênfase aos personagens brancos em detrimento dos negros.
Essa restrição que Coppola enfrentou representa até uma ironia com a própria estória contada no filme. O Cotton Club era uma boate no Harlem em Nova York que viveu seu auge na década de 1930, época em que se concentra o roteiro, baseado em livro de William Kennedy. Porque não deixa de ser irônico que naqueles anos os negros eram as principais atrações musicais – do quilate de Duke Ellington e Lena Horne – mas os clientes eram exclusivamente brancos. Até 1935, os negros eram proibidos de entrar pela porta da frente.
Quase cinquenta anos depois da época retratada, a discriminação se repetia na montagem da versão do filme Cotton Club distribuída ao público. Os talentosos Gregory Hines e seu irmão Maurice Hines interpretaram as atrações do clube mas, como estavam atraindo o foco da narrativa, acabaram podados na edição.
Inicialmente, a trama envolveria dois músicos iniciantes, Dixie Dwyer (Richard Gere) e Sandman Williams (Gregory Hines), que chegam ao Cotton Club para construir suas carreiras. Porém, a versão lançada se concentra muito mais na trajetória de Dixie, que se envolve com a máfia e se apaixona por Vera Cicero (Diane Lane), namorada do chefão da quadrilha, enquanto o irmão de Dixie, vivido por Nicholas Cage, se afunda nos caminhos mais violentos.
The Cotton Club Encore
Agora, depois de investir meio milhão de dólares na restauração, Francis Ford Coppola estreia essa semana nos cinemas norte-americanos a nova versão do filme, chamada de The Cotton Club Encore. Coppola adicionou 24 minutos de material restaurado e cortou 13 minutos da versão original.
E, assim, The Cotton Club Encore resgata a trajetória dos personagens de Gregory e Maurice Hines e de outros negros. De quebra, ainda recupera performances incríveis desses artistas no palco do clube. Podemos acompanhar, então, como Sandman Williams se envolve com a cantora Lila Rose (Lonette McKee), que quer fazer carreira na Broadway se passando por branca. O enredo agora abrange a máfia dos negros também.
A nova versão, ainda sem data de lançamento no Brasil, provará se o fracasso comercial de Cotton Club – que arrecadou somente metade do seu orçamento de US$ 58 milhões – resultou de uma péssima decisão dos produtores. Coppola gosta de dar uma repaginada em seus filmes quando ficou insatisfeito com o corte final. O diretor repete com esse lançamento o que já fez com sua versão de Apocalipse Now.
Assista: Francis Ford Coppola sobre The Cotton Club Encore no NYFF