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O Filme da Minha Vida
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O Filme da Minha Vida

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

O ator Selton Mello novamente assume também a direção em “O Filme da Minha Vida”. E o resultado é quase tão elogiável quanto seu trabalho anterior, “O Palhaço”.

“O Filme da Minha Vida” mantém a temática familiar de “O Palhaço”, principalmente a relação do filho com o pai. Johnny Massaro interpreta Tony, um rapaz de 20 anos. Ele retorna da capital, onde morou durante dois anos para estudar, para sua pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul. Mas o mesmo trem que o trouxe de volta leva embora seu pai, Nicolas (Vincent Cassel). Ele parte para a França, seu país de origem, largando sua esposa Sofia (Ondina Clais).  Tony sofre a angústia desse abandono, enquanto começa sua carreira como professor de francês na escola da cidade e se apaixona por Luna (Bruna Linzmeyer). Paco (Selton Mello), o amigo de seu pai, se torna seu companheiro confidente. Uma viagem até uma cidade maior na fronteira trará uma grande revelação para a estória.

Caracterização de época

A história se passa nos anos 1950, e o filme sofre para caracterizar a época. As muitas músicas e filmes que surgem na tela dão a impressão que foram inseridas somente para esta finalidade e não para a narrativa em si. Essa necessidade de reforçar a nostalgia prejudica o ritmo do filme. Principalmente na sua primeira metade, quando o foco devia ser reforçar a angústia de Tony pela partida não justificada do pai. Há um momento em que o sentimentalismo usado para esse intento soa exagerado. É quando Nicolas ensina seu filho Tony, ainda menino, a andar de bicicleta. A música entra na cena com demasiada pompa, quase beirando o piegas.

O diretor Selton Mello emprega em várias sequências o recurso do desfoque, o shallow focus, que deixa apenas o objeto imediatamente à frente da câmera em foco, e o restante no fundo em blur.  A insistência nesse uso acaba cansando o espectador. Pior ainda, em algumas cenas o desfoque atrapalha a narrativa. Por exemplo, quando a mãe está no pomar e ouve um ruído, esse recurso não permite o público enxergar o que ela está vendo. E essa é uma informação importante para a trama, inclusive para a construção dessa personagem. Em outro momento, o quadro todo está desfocado, até que entra o rosto de Nicolas focado em primeiro plano. Nesse trecho, o deep focus permitiria que a presença de Tony ao fundo fosse perceptível. E isso causaria um impacto muito maior na entrada em cena do pai.

Rio Vermelho

Por outro lado, é muito acertado o uso de “Rio Vermelho” (Red River, 1948) na trama. Afinal, o filme de Howard Hawks e Arthur Rosson também trata do relacionamento entre pai e filho. Assim, cria uma relação forte de metalinguagem com o próprio “O Filme da Minha Vida”. E justifica também o interesse que Tony sente pelo filme estrelado por John Wayne.

Como ator, Selton Mello interpreta magistralmente o dúbio personagem Paco. Rude, ele possui a voz rouca e grave, como o grunhido dos porcos que cria. Chega até a tentar imitá-los e se comunicar com eles. Essa característica não é gratuita, se encaixa perfeitamente no caráter desse homem, o que somente ficará claro no decorrer da estória. O restante do elenco também está muito bem, principalmente o protagonista Johnny Massaro e o francês Vincent Cassel, com um delicioso sotaque legítimo. Quem destoa é Rolando Boldrin, numa participação especial como o maquinista do trem. Na sua única parte falada, é impossível reconhecer se ele é um estrangeiro ou um brasileiro.

O roteiro trabalha muito bem a reviravolta da trama. A partir da sua revelação o filme ganha ritmo e interesse, permitindo que da metade para o final “O Filme da Minha Vida” recupere o interesse que quase deixa perder na primeira parte. O personagem Nicolas afirma que o final dos filmes merece ser visto porque sempre é belo, e isso se comprova aqui.


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