Do lendário produtor de filmes B Roger Corman, O Homem dos Olhos de Raio-X (X: The Man with the X-Ray Eyes) é mais uma variação da estória da pessoa corrompida pelo poder. Um tema universal e eterno, presente no mito de Ícaro, na literatura de H.G. Wells (“O Homem Invisível”), no filme A Mosca (The Fly, 1986), de David Cronenberg (ou na versão anterior de 1958), e em tantos outros exemplos. Além disso, para desgraça da humanidade, aplicável a inúmeros abusadores do poder que existiram e existem, com alcance pequeno (chefes em empresas, por exemplo) ou global (líderes políticos).
Nesse filme em questão, o dr. James Xavier (Ray Milland) desenvolve uma fórmula que potencializa o olhar. Quando a fundação que patrocina sua pesquisa corta o subsídio, ele decide usar a fórmula em si mesmo. Como resultado, consegue enxergar através das coisas. Embora ele ainda não domine totalmente essa habilidade, esse poder logo o tira dos eixos. De cara, agride um colega médico para demonstrar a sua descoberta. Outro ímpeto de violência leva um amigo à morte. Em pouco tempo, ele se torna um fugitivo da lei. Então, surge a ganância, e ele parte para Las Vegas, onde pode facilmente ganhar nos jogos com sua capacidade de ver as cartas. Nesse ponto, não há mais salvação para ele, pelo menos até o final que desmente essa danação, com uma solução chocante.
O terror
A ficção-científica O Homem dos Olhos de Raio-X flerta com vários gêneros. Até a comédia, quando Xavier descobre que pode ver as pessoas peladas. Mas o terror é o que mais marca. A abertura, por exemplo, é de arrepiar. A aparência dos olhos do protagonista, ademais, muda bastante durante o filme, com efeitos práticos (lentes, creio) convincentes, principalmente na parte final, com destaque para os três últimos (um metálico dourado, um preto, um vermelho).
Para demonstrar o efeito da substância na visão, Roger Corman dribla o orçamento apertado com o uso de câmera subjetiva. A sequência da chegada a Las Vegas exemplifica esse recurso, com os famosos letreiros de neon distorcidos aos olhos de Xavier. Essa montagem, porém, é um tanto longa demais, talvez buscando um efeito lisérgico coerente com a época da produção.
Mas, esse longo demais se aplica também a outros momentos. Sem contar que a sequência do circo não se encaixa bem na estória – entra de forma bem abrupta, parece que os perrengues de Xavier após fugir do hospital ficaram fora do corte final. Por isso, o ritmo soa arrastado no segundo terço do filme, mesmo tendo uma duração de apenas 79 minutos.
Parecia melhor quando o assisti pela primeira vez, numa madrugada na TV aberta. Mas, sem dúvidas, é um filme que alinha adequadamente a mensagem com a narrativa. E a parte final de O Homem dos Olhos de Raio-X, após o protagonista começar a fugir dos seguranças do cassino e terminando na igreja, novamente me deixou na beira da poltrona.
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Ficha técnica:
O Homem dos Olhos de Raio-X | X: The Man with the X-Ray Eyes | 1963 | 79 min | EUA | Direção: Roger Corman | Roteiro: Robert Dillon, Ray Russell | Elenco: Ray Milland, Diana Van der Vlis, Harold J. Stone, John Hoyt, Don Rickles.