Em O Homem nas Trevas 2, quem assume a direção é Rodo Sayagues, o corroteirista do filme original de 2016, que substitui seu compatriota uruguaio Fede Alvarez.
A dupla repete a coautoria do roteiro desta sequência, e teve que se esforçar para criar um enredo satisfatório para dar continuidade à história bem resolvida de O Homem nas Trevas (2016). Como resultado, a nova trama soa mais complexa, e se aprofunda na construção da nova protagonista, a menina Phoenix (Madelyn Grace), que, aliás, apresenta potencial para gerar uma nova continuação ou um spin-off.
E essa personagem é essencial para transformar o homem cego, que no filme anterior começava como vítima e se tornava o vilão, no herói desta sequência. A nova história acontece mais de oito anos depois, quando o cego precisa proteger sua filha Phoenix de invasores. Agora, os rivais dele não são três jovens que praticam pequenos furtos, mas uma perigosa gangue de traficantes de drogas – que se tornam mais sombrios conforme o enredo avança. E o líder possui uma conexão pessoal com Phoenix que o motiva a sequestrar a menina.
Mais complexo
A maior complexidade da trama se reflete também na produção. O Homem nas Trevas 2 sai do cenário único da casa do cego, e inclui um velho hotel abandonado. Com isso, perde um dos elementos que justificava a vantagem do protagonista sobre os seus oponentes, que era a familiaridade territorial. Isso se mantém na primeira parte, quando os traficantes invadem a sua casa. Porém, armados e violentos, eles superam o veterano de guerra, mesmo em sua própria casa. Então, na segunda parte, o cego tenta recuperar a filha entrando em terreno inimigo.
Sem dúvida, nessas circunstâncias, é mais difícil engolir a superioridade do cego contra a gangue de traficantes. Por isso, a fim de equilibrar as forças, o filme faz do cego um homem ainda mais sanguinolento do que no primeiro filme. Como justificativa, agora há o agravante de ele defender a vida da filha. Então, surgem cenas de violência explícita, muito gore, e isso até alcança a menina Phoenix, que, com certeza, não crescerá como uma pessoa normal.
Além disso, o que se perde nessa sequência, também, é o suspense criado pela necessidade de se manter o silêncio para conseguir sobreviver. Era o que os jovens invasores do filme original precisavam se preocupar para que o cego não os encontrasse. Naquela situação, o espectador tomava o partido dos oponentes do cego. Porém, nesta sequência, a empatia fica com o cego, o que desperdiça esse medo de fazer algum ruído.
Enfim, mesmo sendo inferior ao primeiro filme, O Homem nas Trevas 2 ainda provoca momentos de suspense. Afinal, a maior complexidade da trama e a violência expandida garantem bons arrepios.
Por último (spoilers adiante), não perca a cena pós-créditos, quando o dedo indicador do cego se move muito lentamente revelando que ele não está morto.
