A Vitrine Filmes realiza uma sessão especial com debate de O Livro dos Prazeres no Petra Belas Artes, no dia 23 de setembro de 2022, às 20h30. Após a exibição do filme, a diretora Marcela Lordy entra num bate-papo com os professores Eliane Fittipaldi e Evando Nascimento, sob a mediação de Paula Jacob, da Revista Claudia.
A sessão será aberta ao público e os ingressos já estão disponíveis no ingresso.com e nas bilheterias do cinema.
Sobre os debatedores:
Eliane Fittipaldi é Licenciada em Letras pela Universidade de São Paulo (1979), onde também se especializou em Tradução (1980). Nessa mesma instituição concluiu o Mestrado em Estudos Literários e Tradutológicos em Inglês e Francês (1987) e o Doutorado em Literatura Portuguesa Comparada às Literaturas Brasileira, Francesa e Inglesa (1996), com o tema “Personagens Femininas do Realismo: uma retórica da paixão”. Atualmente, realiza pesquisa de pós-doutorado a respeito da (des)construção de personagens femininas no Cinema Francês e nas Literaturas Brasileira e Francesa. Além disso, integra o grupo de estudos em Literatura e Psicanálise, na Universidade de São Paulo.
Evando Nascimento é escritor, professor universitário, ensaísta e artista visual. Ensinou na Universidade Federal de Juiz de Fora e na Université Stendhal de Grenoble. Em 2007, realizou um pós-doutorado em filosofia na Universidade Livre de Berlim. É autor do livro “Clarice Lispector: uma literatura pensante” (ed. Civilização Brasileira).
A diretora e a obra de Clarice
Quando resolveu adaptar o romance “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, de Clarice Lispector, a roteirista e diretora Marcela Lordy estava diante do enorme desafio de transpor a prosa da escritora para a tela. Mas havia a alegria de levar para o cinema um dos maiores nomes da literatura latino-americana. “O livro mostra que ainda é preciso criar espaços de poder para as mulheres e que este espaço começa dentro da gente. Além disso ele nos convida a repensar a forma como descartamos nossas relações afetivas”.
Simone Spoladore interpreta a protagonista, Lóri, uma professora fluminense recém-chegada ao Rio de Janeiro com dificuldade em estabelecer elos afetivos profundos. Então, conhece Ulisses (Javier Drolas), um professor de filosofia argentino, com quem viverá um relacionamento intenso.
Mesmo tendo sido publicado há mais de 50 anos, Lordy valoriza a atualidade do romance, um dos mais adorados da bibliografia da escritora. “A Clarice coloca a mulher no centro da narrativa, algo raro no país tanto na literatura quanto no cinema da época. O lugar secundário destinado às mulheres já não nos serve mais, estamos ganhando força graças a autoras que contaram com a Clarice abrindo portas. Ela é uma referência fundamental na nossa formação.”.
Adaptações
Algumas adaptações foram necessárias, no sentido de trazer a trama para o presente, sem perder o espírito da obra original. “As questões abordadas por ela sobre a posição feminina dentro e fora da gente numa sociedade patriarcal seguem mais fortes do que nunca. Neste aspecto, a condição da mulher pouco mudou. No entanto, foi preciso amenizar o lado careta do Ulisses e a submissão excessiva da Lóri, que não cabiam mais nos dias de hoje. Deixamos os dois personagens mais livres em relação ao corpo e à própria sexualidade”, revela a diretora.
Nesse sentido, Lordy, que também assina o roteiro com Josefina Trotta, explica que, para adaptar uma narrativa tão introspectiva foi preciso criar novas ações e situações que pudessem compor o longa: “Nos inspiramos na obra dela como um todo e na nossa própria história. Fugimos da voz em off, que seria o caminho mais óbvio, para irmos em direção à ação e a exploração dos sentidos, na construção minuciosa de uma dramaturgia cinematográfica singular. O texto foi outro ponto crucial. Atualizamos tudo, do vocabulário ao conteúdo, sem nos afastarmos da essência do livro.”
Trajetória do filme
O filme fez sua estreia na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em 2020, ano em que o evento aconteceu exclusivamente online, e ficou no top 3 dos mais vistos e bem votados da edição. Na época, escrevemos a crítica do filme (leia aqui).
Depois disso, o longa viajou o mundo em mais de 15 festivais presenciais e virtuais, recebendo diversos prêmios, como no 22˚ BAFICI (Competição Americana – Prêmio de Melhor Atriz para Simone Spoladore e Menção Honrosa para o longa); 26 ̊ Festival de Cinema de Vitória (Prêmio de Melhor Roteiro, Melhor Interpretação para Simone Spoladore e Menção Honrosa para Fotografia de Mauro Pinheiro Júnior, ABC); e Festival do Rio 2021. Ele também foi distribuído pela agência alemã M_appeal para o Japão, EUA, Israel, Taiwan e China.
“Estou muito feliz em exibir o filme na tela grande por aqui. A sua primeira exibição aconteceu de forma online na Mostra de SP, e, apesar de ser um dos filmes mais vistos senti falta da troca com público. O mundo virtual não me satisfaz. Este é um filme para ser visto na tela grande, um filme sensorial, no qual a narrativa penetra lentamente nos poros do espectador. Ele só se completa na sala escura, com o som vindo de todos os lados e a sensação de intimidade que só cinema proporciona para o espectador”, finaliza Marcela Lordy.
(foto/divulgação: Marcela Lordy/crédito Gabriela Bernd)