Poster do filme "O Poço"
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O Poço

Avaliação:
4/10

4/10

Crítica | Ficha técnica

O filme espanhol O Poço segue a diretriz “content is king” que contaminou as produções na era do streaming. Segundo essa linha, o conteúdo é o elemento principal de um filme ou de uma série – em outras palavras, se a história é boa, não importa a forma. Assim, os produtores vasculhavam toneladas de material original para adquirir e filmar. Nessa busca desesperada, o que contava mesmo na escolha era a premissa. Porém, muitas vezes o roteiro não desenvolvia apropriadamente a proposta inicial que parecia instigante. Na maioria das vezes, porque esse roteiro ainda acabava nas mãos de um diretor fraco. Consequentemente, as plataformas até hoje oferecem títulos que, pela sua sinopse, parecem que são ótimos, mas na maior parte dos casos acabam frustrando as expectativas. 

O Poço 

A ideia de O Poço, de fato, é provocadora. Em uma prisão vertical, cada piso possui dois prisioneiros aleatoriamente reunidos. No andar zero, fica um restaurante que prepara diariamente um banquete. A refeição vai descendo, parando dois minutos em cada andar, numa plataforma automática. Não há reposição de comida. Portanto, quem está no andar de baixo tem à disposição para comer o que sobrou dos andares superiores.  

Essas regras despertam, primeiramente, o instinto de sobrevivência dos prisioneiros. Porém, numa segunda análise, trata-se de uma experiência social. A quantidade de comida que sai do restaurante é suficiente para todos os presos, de todos os andares, se alimentarem, desde que cada um consuma apenas o que é necessário. O protagonista acaba aprendendo essa e outras lições, nas conversas com seu companheiro de andar da vez, já que de tempos em tempos há um novo sorteio de andar para cada um deles. O primeiro companheiro de cela dele visa apenas a sobrevivência, custe o que custar. Mas, uma nova prisioneira lhe explica a lógica desse jogo, e ele passa, então, a fazer o possível para implantar essa filosofia.  

Pouco fôlego 

O fôlego do enredo se esgota antes da metade do filme, então, o diretor estreante Galder Gaztelu-Urrutia começa a apelar para o repugnante para tentar prender o espectador.  O irritante companheiro de andar do recém-chegado protagonista acaba por ser o algoz do recurso do canibalismo. Como se não bastasse a ideia de comer carne humana, o filme ainda recorre a exibir vermes do cadáver em putrefação. E a vontade de chocar a qualquer preço não para por aí. A fim de mostrar que quem está no andar de cima desdenha quem está embaixo (óbvio paralelo com as classes sociais), prisioneiros de cima urinam e defecam sobre a comida que vai para baixo.  

O Poço possui muitos diálogos porque, aparentemente, o diretor iniciante não conseguiu encontrar formas de comunicar as ideias do roteiro através de imagens. Preferiu concentrar seus esforços em construir imagens que provoquem náuseas – desde a aparência das celas, passando pela apresentação das comidas já manuseadas, pelas violências gratuitas e até pelos personagens repugnantes. E o roteiro, além do mais, aposta numa solução final, baseada na solidariedade espontânea, que acaba não funcionando na narrativa. Afinal, os dois heróis desse segmento, ao invés de pregarem a sua mensagem, acabam resolvendo tudo na base da pancadaria. Por fim, o que sobe para o restaurante não representa um sinal de quebra da corrente da individualidade egoísta, o que destrói o propósito do filme em si.  

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Ficha técnica: 

O Poço | El Hoyo | 2019 | 94 min. | Espanha | Direção: Galder Gaztelu-Urrutia | Roteiro: David Desola, Pedro Rivero | Elenco: Ivan Massagué, Zorion Eguileor, Antonia San Juan, Emilio Buale, Alexandra Masangkay. 

Onde assistir:
Foto do filme "O Poço"
Foto do filme "O Poço"
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