O Renascimento (Um coup de maître) é uma refilmagem do longa Minha Obra Prima (Mi obra maestra, 2018), coprodução Argentina/Espanha dirigida por Gastón Duprat. Em sua versão, o diretor Rémi Bezançon acerta na qualidade pictórica de seu filme, em linha com o tema da pintura do enredo. Mas a trama soa inconsistente, principalmente em relação ao protagonista Renzo Nervi (Bouli Lanners).
O filme pretende delinear Renzo como um artista rebelde. Nas primeiras cenas, ele dá três tiros num de seus quadros que seu amigo e merchant Arthur Forestier (Vincent Macaigne) estava prestes a vender. O ato violento reflete a inconsequência do pintor, que está endividado e sob risco de perder sua casa e todos seus bens. A trama, até certo ponto, mantém a coerência, pois constrói o personagem Renzo com base em uma ética da arte pela arte. Expressamente, tanto ele quanto Arthur afirmam que as obras viraram investimento, e por isso muitos compradores adquirem os quadros para manterem guardados em cofres à espera da sua valorização. A mensagem possui força, e sustenta a narrativa nos dois primeiros terços do filme.
Um golpe baixo
No entanto, a história degringola quando acontece uma reviravolta, o tal golpe de mestre do título em francês. Sem entregar aqui a surpresa, o problema desse plano é que ele trai toda a construção do personagem Renzo. O seu idealismo anticomercial cai por terra, sua rebeldia não parece tão autêntica – se aproxima mais dos Ramones (presente na trilha) do que do punk raivoso dos Sex Pistols.
E, nessa parte final, parece que o diretor Rémi Bezançon não sabe como terminar o filme. Alonga demasiadamente o reencontro com o aprendiz Alex (Bastien Ughetto), perdendo tempo com uma tragédia que não se concretiza. Além disso, apresenta uma desnecessária montagem com detalhes do planejamento e da execução do golpe – que não revelam nada que o espectador não saiba.
Qualidade pictórica
Se a trama não funciona, O Renascimento pelo menos possui uma admirável qualidade pictórica. A caprichada fotografia trabalha a iluminação e a textura com a inspiração de grandes pintores. Os enquadramentos, por sua vez, trabalham a arquitetura para criar recortes dentro da tela, destacando personagens ou sentimentos como a narrativa pede. A natureza, da mesma forma, soa muito próxima de uma pintura, como fica explícito na cena final. Nesses quesitos, a arte da pintura encontra a arte do cinema.
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Ficha técnica:
O Renascimento | Un coup de maître | 2023 | 95 min | França, Bélgica | Direção: Rémi Bezançon | Roteiro: Rémi Bezançon, Vanessa Portal | Elenco: Vincent Macaigne, Bouli Lanners, Bastien Ughetto, Anaïde Rozam, Aure Atika, Michel Nabokoff, Philippe Résimont.
Distribuição: Bonfilm.
O filme está na programação do Festival Varilux 2023.