Poster do filme "O Senhor dos Mortos"
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O Senhor dos Mortos

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

Um dos filmes mais aguardados da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo é também o mais pessoal do diretor David Cronenberg. O que, por óbvio, não o afasta da morbidez que caracteriza a sua obra. Em O Senhor dos Mortos, Cronenberg cria uma estória ficcional em cima dos seus sentimentos pela perda da esposa Carolyn em 2017.

Uma sci-fi possível

No filme, Karsh (Vincent Cassel com os cabelos iguais aos de Cronenberg) é um empresário milionário que cria uma tecnologia para monitorar cadáveres. Dessa forma, ele consegue algum conforto no luto pela esposa Becca (Diane Kruger), morta há quatro anos. Essa solução, que ele transforma num negócio, permite que um familiar acompanhe a decomposição do corpo do ente falecido 24 horas por dia. No caso de Becca, ela já se transformou em um esqueleto, mas o viúvo mantém os registros das várias etapas desse processo. Quando vândalos destroem alguns desses túmulos, incluindo o de Becca, Karsh tenta descobrir o motivo dessa violação.

Nessa busca, conta com a ajuda do ex-concunhado Mury (Guy Pearce), criador da tecnologia. A ex de Mury, irmã de Becca, acredita numa teoria da conspiração, possibilidade que parece concebível quando entra na trama Soo-Min (Sandrine Holt), a esposa cega de um bilionário que está morrendo.   

Para situar a estória e apresentar o protagonista, Cronenberg cria uma divertida sequência inicial. Karsh está em um encontro às cegas no seu luxuoso restaurante dentro do cemitério The Shrouds, que possui os tais jazigos monitorados. Conforme ele se aprofunda nas explicações, mais a mulher vai ficando assustada, até finalmente surtar com as imagens ao vivo do cadáver de Becca no aplicativo do celular do seu pretendente. Por sua vez, o público no cinema fica cativado com esse cenário tipicamente cronenbergiano, desta vez numa ficção-científica possível. A tecnologia não está distante, mas as questões éticas a impossibilitariam. Além disso, quantas pessoas estariam interessadas em comprar esse serviço?

Resolvendo o luto

No entanto, o desenvolvimento da teoria da conspiração torna O Senhor dos Mortos cada vez menos interessante. A trama ganha proporções internacionais e absurdas. E não precisava tantas explicações, pois os seus detalhes não importam, o papel desse McGuffin é mostrar a Karsh que ele está no caminho errado para resolver o seu luto. Não adianta ele se apegar ao corpo em putrefação e aos possíveis motivos que levaram sua esposa à morte. Ele precisa aceitar a morte, não há mais nada a fazer para trazê-la de volta.

Por isso, os sonhos no filme são essenciais. Karsh sonha reiteradamente que está na cama fazendo amor com sua esposa. Porém, a cada sequência onírica, Becca se apresenta com seu corpo em estado pior por conta da doença. Isso mostra que o mais saudável para Karsh é seguir a sua vida, sem deixar de lado as melhores memórias da esposa que se foi. Assim, com as duas mulheres com quem ele finalmente volta a fazer sexo, as lembranças de Becca estão presentes. Por fim, ele troca a sucessão de sonhos com a esposa pelo sonho que encerra o filme, num tom de esperança, com a proposta de recomeçar a vida em um novo relacionamento.

O Senhor dos Mortos se afasta do Cronenberg do body horror, embora trabalhe a tecnologia futurista com morbidez. Nesse drama pessoal, contado à sua maneira, o diretor lida com esse gênero que não é novo para ele, mas que ainda não lhe rendeu um grande filme.

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Ficha técnica: 

O Senhor dos Mortos | The Shrouds | 2024 | 116 min. | França, Canadá | Direção: David Cronenberg | Roteiro: David Cronenberg | Elenco: Vincent Cassel, Diane Kruger, Guy Pearce, Sandrine Holt, Elizabeth Saunders, Jennifer Dale, Eric Weinthal.

Onde assistir:
Cena do filme "O Senhor dos Mortos"
Cena do filme "O Senhor dos Mortos"
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