O terror real e dilacerante em O Sequestro de Daniel Rye.
O filme conta o período de 13 meses em que o jovem dinamarquês Daniel Rye ficou sob cativeiro do ISIS (ou EIIL – Estado Islâmico do Iraque e do Levante), em 2013.
Antes, o rapaz era um ginasta que treinava para as Olímpiadas quando se contundiu. Então, assumiu uma rota alternativa, começando a trabalhar como fotógrafo. Em um dos seus primeiros trabalhos, viajou para a Síria e foi logo capturado por membros da organização jihadista.
Arthur, um ex-militar americano, assume a negociação do resgate que o ISIS exige para libertar Daniel Rye. Mas, como o governo dinamarquês mantém uma política de não negociar com terroristas, a humilde família busca de todas as maneiras conseguir a exorbitante quantia de 2 milhões de euros que pediram. Além de reunir todos o patrimônio familiar, tentam arrecadar dinheiro de amigos, organizações e empresas.
Direção e elenco
A direção de O Sequestro de Daniel Rye está nas mãos dois cineastas. Um deles é Niels Arden Oplev, o experiente diretor que realizou filmes como Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2009), Sem Perdão (2013) e Além da Morte (2017). O seu codiretor é Anders W. Berthelsen, o ator que interpreta Arthur na história, estrando na função. O resultado da parceria é muito bom, e consegue transferir para o espectador o medo do jovem rapaz sequestrado.
Parte disso se deve ao segmento inicial do filme. Além de mostrar a vida normal de Daniel Rye na Dinamarca, esse trecho revela os motivos que o levam a se arriscar em um trabalho num território tomado por conflitos. Tal como ele conta posteriormente para o jornalista James Foley no cativeiro, ele estava entediado após ser cotado da delegação olímpica e queria mostrar seu valor para sua família. Aliás, isso é importante para evitar obstáculos à empatia do público com o protagonista.
O ator Esben Smed é visivelmente mais velho do que seu personagem Daniel Rye – dez anos a mais, na época das filmagens. Isso incomoda bastante, pois o filme se esforça por evidenciar a inexperiência do seu protagonista. Por exemplo, o protagonista comenta ingenuamente que os carcereiros, por serem ingleses, não devem ser tão maus. Mas, seu companheiro de cativeiro lhe diz que eles são todos fanáticos e sádicos, como ficará claro posteriormente. Ou seja, como havia essa preocupação em mostrar a inocência de Daniel, não há dúvidas que um ator mais jovem tornaria ainda mais revoltante o seu sequestro e mais engajante a empatia do espectador com ele.
Sentimento de terror
Mesmo assim, o filme consegue disparar sentimentos de terror diante das torturas e dos abusos gratuitos que sofrem Daniel Rye e seus companheiros de cativeiro. Os membros do ISIS são caracterizados como cruéis e desumanos, e vários trechos exemplificam seus atos de violência gratuita. Ademais, há uma tentativa de fuga logo no início da captura do protagonista que assinala como isso era uma possibilidade inexistente. Com isso, evita-se que o espectador assista a essa história como se fosse um filme de ação, em que o personagem principal precise buscar uma solução heroica.
Por outro lado, os diretores evitam que o tom seja sufocante demais. Para isso, alternam as angustiantes cenas no cativeiro com a luta da família para angariar o valor que poderá libertar Daniel Rye. À parte a discussão sobre a validade de financiar os terroristas com o pagamento de resgates, a família representa a figura heroica dessa história, no sentido de que seus membros fazem de tudo para salvar o rapaz.
O Sequestro de Daniel Rye é um duro retrato dessa ameaça real, por isso não comporta um final feliz. O filme faz questão de apontar que a libertação do prisioneiro mediante o pagamento do resgate não representa uma vitória, como as informações nas cartelas finais deixam evidente.
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Ficha técnica:
O Sequestro de Daniel Rye (Ser du månen, Daniel) 2019. Dinamarca/Noruega/Suécia. 138 min. Direção: Niels Arden Oplev, Anders W. Berthelsen. Roteiro: Anders Thomas Jensen. Elenco: Esben Smed, Sofie Torp, Anders W. Berthelsen, Sofia Danu, Sara Hjort Ditlevsen, Christiane Gjellerup Koch.
Distribuição: Califórnia Filmes.