Essencialmente, O Sol Branco do Deserto reflete os ventos da anarquia da época em que foi realizado, em 1970. Nesse sentido, mistura aventura , faroeste e comédia, com a política como tema latente.
Desde sua abertura, o filme é inovador, apresentando nos créditos iniciais várias cenas semelhantes do protagonista do filme, Fyodor Sukhov, andando pelas areias do deserto. E, nessas cenas, uma linha reta traça seu caminho em diversas direções, o que denota que ele está perdido.
Analogamente, há uma sequência anterior onde a voz de Sukhov declara uma carta apaixonada enquanto vemos uma mulher na tela. Além do texto erudito, causam estranheza os planos inesperados e os jump-cuts. Com isso, fica já evidente que o filme trará uma experiência diferenciada.
A trama
Em suma, a estória conta as aventuras de Fyodor Sukhov, soldado do Exército Vermelho pelo deserto, onde ele procura o inimigo muçulmano Abdulla. Eventualmente, encontra e salva Sayid, que estava enterrado na areia com apenas a cabeça de fora, bem como as várias mulheres do harém de Abdulla. Posteriormente, no clímax final, esses personagens se confrontarão em uma batalha.
No início, o tom de O Sol Branco do Deserto é sério. Porém, conforme a estória avança, crescem os elementos cômicos, chegando até a sequências nonsense e cenas abertamente humorísticas. Como exemplo dessas últimas, está aquela onde uma das esposas de Abdulla argumenta o benefício de uma mulher pertencer a um harém: cada uma pode se especializar em uma tarefa do lar, ao invés de uma só esposa realizar todo o trabalho. E essa ideia é visualizada na tela pela imaginação de Sukhov.
Esse estilo anárquico do filme, que mistura gêneros e surpreende o público com cenas inesperadas, tendo a política como pano de fundo, dialoga por aqui com alguns títulos de Carlos Reichenbach. Aliás, cabe, também, uma comparação com O Demônio das Onze Horas (1965), de Jean Luc Godard.
Ou seja, O Sol Branco do Deserto pode não agradar a todos, mas com certeza não deixa ninguém indiferente.
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Ficha técnica:
O Sol Branco do Deserto (Beloe solntse pustyni) 1970, União Sovíetica, 84 min. Direção: Vladimir Motyl. Roteiro: Valentin Ezhov, Rustam Ibragimbekov, Mark Zakharov. Elenco: Anatoliy Kuznetsov, Pavel Luspekayev, Spartak Mishulin, Kakhi Kavsadze, Raisa Kurkina, Nikolai Godovikov, Tatyana Fedotova, Musa Dudayev, Nikolai Badyev, Vladimir Kadochnikov.
O Sol Branco do Deserto está na programação da 7ª edição da Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo que acontece de 3 a 13 de dezembro de 2020, com exibições gratuitas no canal do CPC-UMES Filmes no Youtube.