O Sonho de uma Família pretende resgatar com nostalgia um curto período que marcou a vida de três irmãos quando eram crianças. Porém, o filme não consegue captar a magia desse momento, e tudo parece um relato de fatos aleatórios para um público indefinido.
Sebastiano, Jean e Alma são três irmãos que sofrem por causa da separação dos pais. Eles moram em Paris com a mãe, que agora tem outro homem e está grávida. Em breve, todos se mudarão para o Canadá. Mas, antes, as crianças passarão duas semanas com o pai e a namorada dele, em uma casa simples no litoral.
Alma, Jean e Sebastiano
O filme é narrado pela caçula Alma, com a voz da criança de oito anos que era naquele momento refletindo os seus pensamentos. Nada muito importante acontece com ela, e a personagem não passa por nenhuma mudança durante o filme. Não existe o arco do personagem para ela. Ela sofre com as brigas entre o pai e a mãe, mas o roteiro não explica por que que os adultos estranhamente permitem que ela as testemunhe. Quando ela chega na praia, se encanta com a beleza de um rapaz de 18 anos, e sua participação no filme se encerra com esse foco, sem mudar nada.
O filho do meio, Jean, é exclusivamente caracterizado por sua saúde frágil. Diabético, todos devem se preocupar com ele. Como contraponto, Jean é obcecado pelo herói do seriado O Homem de Seis Milhões de Dólares, e gosta de brincar sozinho fingindo ter os poderes do ciborgue. Isso acabará causando um acidente, que não leva a nenhuma evolução no personagem.
Por fim, dos três filhos, o mais velho, Sebastiano, de catorze anos, acaba sendo involuntariamente o mais interessante. E, mais por conta de sua idade do que por uma intenção do roteiro. Afinal, ele passa por um amadurecimento, tendo que assumir algumas responsabilidades. Por exemplo, é ele que aplica as injeções diárias de insulina em Jean, pois o pai é relapso. Além disso, aprende a dirigir, beija uma mulher pela primeira vez na vida e ainda vê a namorada do pai nua e os dois transando.
Análise
A princípio, a estória parece se passar no início dos anos 1980. Pelo menos, é o que indica a camiseta do Van Halen da namorada do pai. Porém, os modelos de televisores que aparecem no filme e o fato de que o seriado do ciborgue está sendo transmitido, confundem a época, porque essa produção se tornou famosa nos anos 1970.
Essencialmente, O Sonho de uma Família leva para as telas as memórias da diretora e co-roteirista Ginevra Elkann, debutando em longa-metragens. Sua inexperiência fica nítida na tela. Ignorando a gramática do cinema, ela deixa de apresentar planos detalhes necessários para a cena. Por exemplo, quando Jean se irrita com a notícia da gravidez da mãe e começa a fazer ruídos, o filme não mostra de onde vem o barulho. Adicionalmente, costuma deixar a câmera em plano geral, sem se aproximar dos personagens em cenas dramáticas, ainda emprega a câmera na mão sem finalidade narrativa.
Além disso, o filme também não se define quanto ao seu tom. A princípio, pelo protagonismo das crianças e da narração na voz infantil de uma delas, tem-se a impressão de que O Sonho de uma Família é indicado a um belo programa familiar. Evite isso. É melhor tirar as crianças da sala, pois o filme tem nudez, uso de drogas e ainda uma cena de sexo oral.
Como resultado, O Sonho de uma Família é insosso e sem público alvo definido.
Ficha técnica:
O Sonho de uma Família (Magari, 2019) Itália/França. 104 min. Dir: Ginevra Elkann. Rot: Chiara Barzini, Ginevra Elkann. Com Riccardo Scamarcio, Alba Rohrwacher, Milo Roussel, Céline Sallette, Brett Gelman, Ettore Giustiniani, Oro de Commarque, Benjamin Baroche, Luigi Catani.