O Traidor conta a história do delator da máfia Tommaso Buscetta, famoso no Brasil porque se escoundeu por aqui em meados dos anos 1980.
O filme abre com uma festa da máfia siciliana em Palermo, em setembro de 1980. Os negócios da Casa Nostra estão em ascensão por causa da heroína. Mas, Tommaso Buscetta, um mafioso de nível inferior, confidencia a seu chefe que pretende fugir para o Brasil. E o que move sua decisão é a crescente violência da máfia, que coloca em risco sua família e sua esposa brasileira.
Contudo, o refúgio no Rio de Janeiro não dura muito, e, em julho de 1984, acontece a extradição de Buscetta para a Itália, onde o juiz Giovanni Falcone o convence a delatar a máfia. Dessa forma, conseguiria viver com a família nos EUA, sob o sistema de proteção a testemunhas. Então, ele vai ao tribunal e enfrenta acareações com seus antigos companheiros.
O poderoso traidor
O diretor Marco Bellocchio constrói em O Traidor um filme de máfia potente, seguindo os rastros de O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola. Nesse sentido, a primeira sequência desperta essa comparação ao mostrar os dramas pessoais de um mafioso em meio a uma grande festa, como o casamento no filme do diretor americano. Adicionalmente, a violência que corre solta em paralelo à fuga de Buscetta também corrobora essa semelhança.
E o filme demonstra a escalada das execuções da máfia com originalidade. Vemos no canto esquerdo da tela um contador que começa em zero e ultrapassa a centena. Durante essa contagem, acompanhamos os assassinatos e descobrimos que o contador registra a enorme quantidade de mortes provocadas pelos mafiosos.
Mas, não é apenas a máfia que causa a violência em O Traidor. Por exemplo, quando prendem Buschetta no Brasil, a polícia local o interroga com terríveis métodos de tortura, para tentar descobrir onde ele esconde seu dinheiro e suas drogas.
Por outro lado, a história não para no julgamento pós-extradição. Na verdade, continua na tentativa de Buschetta se adaptar à vida nos EUA e em seu retorno à Itália para contribuir nos esforços de frear a impiedosa retaliação da máfia contra aqueles que os levaram à cadeia. O filme deixa claro, porém, que a delação de Buschetta abalou a máfia, mas alguns políticos poderosos ainda conseguiram escapar ilesos.
Ritmo rápido
Com relatos rápidos, marcados por letterings que revelam as datas dos acontecimentos de cada sequência, inclusive nos flashbacks, em locações variadas, O Traidor possui um ritmo ágil. Por isso, mesmo retratando um longo período, o filme nunca fica cansativo. De fato, em alguns momentos, a ação da máfia nos surpreende, ainda que retratem fatos conhecidos (como o atentado ao juiz).
Além disso, o longa-metragem de Marco Bellocchio não é um mero relato de acontecimentos. O filme captura o espectador com a complexidade do personagem principal, um bandido que sofre para transcender o código de honra da máfia e buscar um arrependimento que nunca alcança. Assim, O Traidor amplia a dimensão do que representou esse ato heroico de um anti-herói.
Ficha técnica:
O Traidor | Il Traditore | 2019 | Itália/França/Alemanha/Brasil | 153 min | Direção: Marco Bellocchio | Roteiro: Marco Bellocchio & Valia Santella & Ludovica Rampoldi & Francesco Piccolo | Elenco: Pierfrancesco Favino, Luigi Lo Cascio, Fausto Russo Alesi, Maria Fernanda Cândido, Fabrizio Ferracane, Nicola Cali, Giovanni Calcagno, Bruno Cariello, Bebo Storti.
Distribuição: Pandora Filmes.