O Último a Rir propõe a alternativa de viver com liberdade.
Esta é a estreia em longa-metragem do diretor suíço Alain Tanner, conhecido aqui no Brasil por Jonas Que Terá Vinte e Cinco Anos no Ano 2000 (1976). Seu primeiro filme já apresenta muitas das características de suas obras, principalmente os diálogos com propostas filosóficas.
O protagonista de O Último a Rir é o cinquentão Charles Dé, empresário de terceira geração de uma fábrica de relógios em Genebra. Seu filho Pierre já praticamente assumiu seu lugar, e critica as decisões do pai. Então, desgostoso com sua vida, Charles resolve sumir sem avisar ninguém. Então, conhece Paul e Adeline, um casal que vive nos subúrbios, conscientemente longe dos grilhões da rotina capitalista, e passa a morar com eles. Depois, Charles convida a filha Marianne para algumas visitas, pois ela, diferente do irmão, integra um movimento revolucionário.
Porém, a ausência de Charles cria alguns empecilhos burocráticos para Pierre administrar a empresa, pois alguns documentos exigem a assinatura do pai. Por isso, ele contrata um detetive particular para localizar o pai. Dessa forma, pretende levar o pai para um hospício.
Em sintonia com os anos 1960
O Último a Rir está em sintonia com a época de sua realização, ou seja, os revolucionários anos 1960. Fazia parte da contracultura derrubar os códigos sociais da sociedade capitalista, como faz Charles ao abandonar a sua posição de respeito e não se importar mais em ganhar dinheiro. Da mesma forma, Paul trabalha pintando cartazes e painéis, mas somente o suficiente para seu sustento. Além disso, ele e Adeline não são casados, o que também contraria o padrão tradicional do casamento. É por acreditar nessa transformação que Charles, mesmo antes de sua fuga, já preferia a companhia da filha ativista Marianne do que a do ganancioso filho Pierre.
Filmado em preto e branco, o filme traz muitos monólogos, diálogos e muitas citações, que corroboram o modo de vida alternativo de Charles, Paul e Adeline. Enquanto isso, a trilha sonora estridente, lembrando filmes de terror japoneses, indica o desconforto do protagonista. Além disso, Alain Tanner demonstra inspirações na nouvelle vague no uso de câmera sem tripé, que resulta em tremulações que se alinham com a trama de O Último a Rir, e alterna entre planos muito longos e outros mais curtos.
Em suma, um filme que ainda provoca questionamentos existenciais.
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Ficha técnica:
O Último a Rir (Charles mort ou vif) 1969. Suíça. 93 min. Direção e roteiro: Alain Tanner. Elenco: François Simon, Marie-Claire Dufour, Marcel Robert, Maya Simon, André Schmidt, Jo Excoffier, Walter Schochli.