O Vagabundo (Awaara) é o terceiro filme dos dez que o ator indiano Raj Kapoor viria a dirigir em sua carreira. No elenco, Kapoor conta com seu pai (como o pai desconhecido) e seu filho (como o protagonista ainda criança).
É um épico extremamente melodramático. A trama se inicia num tribunal, quando o protagonista Raj (Raj Kapoor) está prestes a ser condenado por tentar assassinar o juiz Prithviraj. Então, surge Rita (Nargis), que o réu relutantemente aceita como sua advogada de defesa. Depois que Prithviraj argumenta que “filho de bandido é bandido”, Rita o questiona: “O que aconteceu para você expulsar a sua esposa de casa?”. Assim a história começa, num flashback que conta como os caminhos desses três personagem se cruzam.
A vida de Raj começa a desandar quando ele ainda está na barriga da sua mãe. Casada com Prithviraj, ela é raptada pelo bandido Jagga (K.N. Singh), que a devolve intacta ao descobrir que está grávida. Mas o futuro juiz pensa que foi o bandido que a engravidou, e a expulsa de casa. O filme dá um salto no tempo. Raj já nasceu e está com uns dez anos. Mas a pobreza da mãe o leva ao crime, pelas mãos de Jagga. Acaba num reformatório, e na idade adulta continua a viver como ladrão, até reencontrar Rita, seu antigo amor de infância. Ela hoje estuda Direito e tem o agora juiz Prithviraj como seu tutor. Mais coincidências surgirão até, por fim, tudo culminar na cena de abertura no tribunal.
Música, lágrimas ou risos
O Vagabundo está recheado de números musicais que reforçam a narrativa e o tom emocional. Os protagonistas cantam as letras, que remetem à cena imediatamente anterior. Por vezes óbvias demais, as canções são importantes por exacerbar as sensações que o trecho do filme desperta. Em geral, são números com vários atores, e coros que repetem as estrofes. As filmagens, com uma ou outra exceção, acontecem em cenários construídos em estúdio, alguns elaborados e outros com uma pintura em backdrop.
O enredo possui desenlaces trágicos, mas o filme parece não ter intenção de provocar lágrimas. Os personagens choram, mas os espectadores não. Isso porque a atuação de Raj evoca certo artificialismo que até soa cômico. Emana dele uma ingenuidade muito parecida com a de Jerry Lewis, cuja carreira se iniciou em 1949, enquanto Raj Kapoor estreou como ator em 1935. E, claro, lembra Carlitos também.
Por isso, algumas coincidências exageradamente melodramáticas até soam engraçadas. O que, para o público de hoje, fazem do filme uma diversão leve, talvez uma reação diferente que tiveram os espectadores indianos à época de seu lançamento. Mas a transição entre sensações, do riso à tristeza, da ação à paixão, movimenta o filme como costuma acontecer no melhor do cinema do país.
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Ficha técnica:
O Vagabundo | Awaara | 1951 | 193 min. | Índia | Direção: Raj Kapoor | Roteiro: Khwaja Ahmad Abbas | Elenco: Raj Kapoor, Nargis, Prithviraj Kapoor, K.N. Singh, Shashi Kapoor, Cuckoo, B.M. Vyas, Leela Mishra, Baby Zubeida, Leela Chitnis.