Oasis é o ousado terceiro filme do diretor Ivan Ikic. Sua história envolve um triângulo amoroso entre três adolescentes com deficiências intelectuais, que vivem em uma clínica. Como se esse recorte já não fosse inusitado o bastante, todos os internos são interpretados por não atores, residentes de fato em instituições deste tipo.
A estrutura narrativa se adequa ao universo retratado. Restringe-se ao estritamente linear, sem sequer um flashback, nem pausas para reflexão ou narração. Os eventos se sucedem e os personagens reagem a eles, mantendo apenas um tópico em foco. Além disso, o filme se divide em três capítulos, cada um dedicado a cada protagonista. E a perspectiva acompanha essa divisão.
Capítulos
Assim, o filme começa com Maria (Marijana Novakov), a novata que chega à instituição. Acompanhamos sua adaptação, facilitada pela amizade que nasce entre ela e Dragana (Tijana Markovic), outra interna. Porém, surge um conflito entre elas quando as duas se interessam por Robert (Valentino Zenuni), um rapaz fechado que nunca fala. A rixa é resolvida na base da violência.
O segundo capítulo assume a perspectiva de Dragana, e gira em torno de descobrir qual das duas está grávida de Robert. E, consequentemente, o que fazer com essa situação. Este segmento tem um desfecho trágico, que separa Maria de Robert, que fica abalado por isso.
Por fim, o epílogo acompanha Robert, agora sozinho na instituição. Os educadores colocam outra interna, Blanka (Milica Djindjic), para fazer companhia a Robert. A intenção é que ele se esqueça de Maria. Um pouco antes da conclusão, o rapaz cochicha algo para seu educador, algo inédito para esse personagem. Temos a impressão de que foi um ato espontâneo do ator, pois o espectador não consegue ouvir e, seja lá o que ele disse, nada se encaixaria com o final do filme, a não ser que ele tenha mentido.
Antes, no prólogo de Oasis, o diretor Ivan Ikic coloca trechos de propaganda antiga da instituição, o que visa dar autenticidade ao filme que veremos. Mesmo sem isso, a presença dos não-atores garantiria essa qualidade. Aliás, contrariando as promessas do material publicitário, o triângulo amoroso desta história não tem um final feliz.
Enfim, a ousadia de Ivan Ikic lhe rendeu bons frutos. Oasis é a escolha da Sérvia para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Sem dúvida, merece por nos aproximar desse universo misterioso da deficiência intelectual, porém, é uma narrativa dura, nada condescendente.
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Ficha técnica:
Oasis | Oaza | 2020 | Sérvia, Países Baixos, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina, França | 122 min | Direção e roteiro: Ivan Ikic | Elenco: Goran Bogdan, Marusa Majer, Marijana Novakov, Tijama Markovic, Valentino Zenuni, Milica Djindjic, Sasa Strugar.
Obs: assistimos ao filme na série de screenings da The Wrap.
