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Obsessão (filme)
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Obsessão

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O renomado diretor irlandês Neil Jordan, vencedor do Oscar de melhor roteiro original por Traídos Pelo Desejo (1992), rodou em Nova York o filme Obsessão. Esse suspense hitchcockiano conta com a francesa Isabelle Huppert e a estadunidense Chloë Grace Moretz no seu elenco. Essa mistura de influências gerou um filme intrigante, alternando homenagens ao cinema clássico e reflexos da atual vida em sociedade.

Antes de tudo, um desafio que Neil Jordan assumiu e conseguiu vencer foi tornar a figura frágil, mignon e sexagenária de Isabelle Huppert em uma serial killer assustadora e perigosa. O roteiro, de coautoria de Jordan, se encarregou em parte da solução disso, ao definir que Greta Hideg, a sua personagem, trabalhou como enfermeira e conhecia bem anestesias. Portanto, ela as manejava como uma arma, através de uma seringa ou disfarçando em uma bebida. Além disso, Isabelle Huppert é uma atriz excepcional, e no filme Obsessão, comprova seu talento registrando a perturbada personalidade de Greta. De simpática a ameaçadora, ela não deixa dúvidas de que tem condições de dominar a jovem Frances McCullen, papel de Chloë Grace Moretz, também perfeita para representar essa vulnerabilidade.

Greta Hideg sempre necessita da companhia de uma jovem para tratar como se fosse sua filha, nem que seja à força. Para atrair sua vítima, ela tem um plano recorrente: deixar uma bolsa no metrô, fingindo tê-la esquecido. Assim, Frances cai na armadilha e se dirige até a casa de Greta para devolver a bolsa esquecida. Lá, uma simpática Greta fará de tudo para ganhar a confiança da jovem. Frances só desconfiará quando, num jantar na casa de Greta, a moça encontra várias bolsas iguais dentro de um armário. Porém, ao tentar afastar-se, Greta se torna sua stalker.

Marcas de Hitchcock

Até esse segmento, Neil Jordan já terá reproduzido duas marcas de Alfred Hitchcock. Primeiro, no enorme destaque que ele dá à bolsa que Greta usa como isca. Nesse sentido, coloca-a em um close em primeiro plano que preenche quase toda a tela, minimamente mostrando ao fundo Frances e sua amiga Erica (Maika Monroe) conversando sobre assuntos diversos, no apartamento onde coabitam. De forma similar, o mestre do suspense havia levado a extremos esse recurso em Festim Diabólico (1948), em que personagens conversavam próximos a um corpo escondido em uma caixa. De fato, a bolsa, objeto essencial na trama, representa o perigo que Frances colocou em sua vida, e retornará na estória em outros momentos.

Ademais, outra característica hitchcokiana usada por Jordan é fornecer informações ao espectador que a protagonista não tem. Por exemplo, quando Frances devolve a bolsa a Greta, esta finge que não entende nada de tecnologia, tem um celular antigo e não sabe enviar fotos através dele. Porém, à noite, vemos Greta navegando pela conta de Frances em uma rede social. Dessa forma, alerta o espectador que aquela senhora não é exatamente o que aparenta ser.

Então, assim como o personagem de James Stewart utiliza o flash de sua câmera fotográfica para se defender em Janela Indiscreta (1954), Greta persegue Erica registrando sua aproximação através de fotos, que ela envia pelo celular para Frances, criando uma cena de perseguição eletrizante. Além disso, a ação do investigador particular (Stephen Rea, em participação especial) na casa de Greta produz a mesma sensação de perigo iminente presente em Psicose (1960), no momento em que o detetive invade a casa de Norman Bates.

Neil Jordan como Brian De Palma

Igualmente, nota-se uma citação ao discípulo maior de Hitchcock, Brian De Palma. Quando Greta aplica novamente seu golpe de abandonar uma bolsa, a nova vítima é mostrada somente de costas, criando mistério sobre sua aparência. Aliás, o uso de uma peruca remete essa sequência a Vestida Para Matar, que De Palma dirigiu em 1980.

Neil Jordan, contudo, não é um seguidor de Hitchcock como De Palma. Assim, mostra seu talento próprio ao desfocar o rosto de Greta quando ela fica plantada na calçada em frente ao restaurante onde Frances trabalha, intimidando-a. Essa inteligente opção confere a Greta uma aparência monstruosa, que uma imagem nítida talvez não conseguisse com a bela feição da atriz Isabelle Huppert. Da mesma forma, o diretor acerta ao evitar os sustos fáceis, preferindo criar um clima de suspense, que funciona mais em gerar emoção ao público. Porém, a trilha sonora, composta por Javier Navarrete, soa um pouco exagerada e acaba tornando esse suspense desnecessariamente forçado.

Por outro lado, o filme flerta com o terror, ao mostrar uma pessoa quase morta contracenando com Frances e Greta aplicando uma injeção em um dos seus membros que foi decepado. Contudo, um clichê desse gênero incluído no filme Obsessão é a cena do pesadelo. Totalmente dispensável, é um recurso que já foi utilizado demais em vários filmes ao longo de décadas e que já deveria ser abandonado. Afinal, não adiciona suspense ou terror, e só enerva o público.

Roteiro

Aliás, o roteiro escrito por Jordan e Ray Wright possui mais acertos que erros. O melhor é a amarração da cena da primeira visita de Frances à casa de Grace e a repetição do modus operandi com a nova vítima. Com isso, faz o espectador pensar como ele, assim como Frances, não havia percebido nada de suspeito nesse encontro inicial.

Adicionalmente, os autores resolveram com astúcia a explicação para Frances sumir sem que o pai e a amiga Erica desconfiem que algo estranho aconteceu. Porém, não ficou bem explicado como Greta conseguiu drogar Frances no apartamento dela, pois de alguma forma a serial killer teria que ter acesso às suas chaves.

Essencialmente, a estória do filme Obsessão retrata a atual sociedade urbana. Ou seja, como a tecnologia onipresente pode ser utilizada como instrumento para facilitar crimes e a ingenuidade pode ser um erro fatal.


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