O documentário inédito Ode ao Choro, de Cecilia Engels, fica disponível online até 26/01/2022 na 4ª edição da Mostra Sesc de Cinema Paulista gratuitamente.
Era 25 de janeiro de 2019, feriado na cidade de São Paulo, quando a cineasta Cecilia Engels viajou com um grupo de amigos para se isolar no final de semana prolongado. Sem internet e telefone durante quase três dias, não teve acesso as redes sociais ou a notícias. Quando estava na estrada, de volta para casa, o sinal voltou e ela recebeu uma trágica notícia: sua melhor amiga, a quem chamava de Tata, morrera com a família no rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), onde passavam alguns dias.
“Em 2019 quando rompe a barragem de Brumadinho e morre minha amiga Camila, minha vida vira de ponta cabeça. Eu fui entendendo que a arte seria meu canal de expressão para decantar, assimilar e, quem sabe, curar as feridas que esse luto estava deixando em mim. Foi aí que eu decidi embarcar numa jornada que eu chamei de ritual – ensaio – filme, eram encontros filmados com pessoas que me ajudassem a elaborar todos os sentimentos que eu estava vivenciando”, explica a diretora.
Três anos depois, Engels lança o documentário Ode ao Choro, que faz parte 4a Mostra de Cinema Paulista, promovida pelo SESC, e está disponível gratuitamente na plataforma SESC Digital até 26 de janeiro. No longa, a diretora narra seu longo e doloroso processo de luto pela perda de sua amiga, que tinha 33 anos e que conhecia desde a infância. “Cada pedacinho da minha vida tem uma parte sua”, diz numa homenagem a Tata.
O filme a acompanha durante o mês de outubro de 2019, nove meses depois do crime. Ao longo deste período, Engels procurou diversos tipos de terapias que a ajudariam a enfrentar aquele momento. A realização do filme se apresentou como “uma maneira de esvaziar a racionalidade” para poder continuar com sua vida.
Desde conversas até aulas de canto, com resgate de sua trajetória e de Tata, ODE AO CHORO é também uma celebração da memória dos que partiram e um valorização da vida. Assim, neste trabalho, a diretora faz uma homenagem à amiga e aos anos de convivência juntas, enquanto tenta encontrar uma maneira de seguir em frente. “O que fazer em caso de tristeza pós-morte?”, pergunta, lembrando-nos de que nunca estamos preparados para nos separar dos que partem.
Reencontrando cartas e fotografias, a cineasta procurou uma maneira própria de expressar sua perda, uma vez que “palavras não encontram o tamanho da dor.” Em busca de contornar tantos sentimentos diversos, a Cecilia cria imagens de uma poesia melancólica. O filme cria empática com aqueles que já passaram por luto e, também, convida para a reflexão de como, enquanto sociedade, lidamos com as perdas e os rituais de morte.
Ode ao Choro pode, à primeira vista, parecer uma reverência à dor, porém ao longo da travessia sentimos que o filme é uma ode à amizade e à vida!
O filme conta com a participação de: Betina Turner, documentarista e terapeuta paliativista; Bianca Turner, vídeo mapping; Carol Pinzan, ritual relacional e performativo; Felipe Gomes Moreira, preparador vocal e cantor; Gustavo Vinagre, cineasta; e Tânia Piffer, ritual relacional e performativo.
Lançar Ode ao Choro nesse momento, não deixa de ser também um alerta para lembrar o crime de Brumadinho e a impunidade ao longo desse tempo. “Prestes a completar três anos da tragédia, percebo que já vivemos algumas fases. Logo no começo é o choque da perda, o luto, a busca por coisas que nos estimule a seguir em frente.
Agora o que me desilude é a impunidade. Passo bastante tempo pensando e conversando sobre ela. A banalização de atos criminais contra a vida e contra o meio ambiente me provoca tamanha indignação! Não se pode explorar o minério a qualquer custo, o estado precisa ser rígido nos critérios de operação desta atividade. Os rompimentos de barragens são o ‘auge’ das tragédias, além disso no dia a dia, com menos visibilidade, as mineradoras estão contaminando rios, criando disputas de territórios, perseguindo ativistas.
O processo judicial sobre o crime da barragem do Córrego do Feijão precisa ter um desfecho pautado na justiça, com os devidos responsáveis sentenciados e as reparações às vítimas e ao meio ambiente condizentes com o tamanho do estrago.”
Ode ao Choro está disponível em:
https://sesc.digital/conteudo/cinema-e-video/mostra-sesc-de-cinema/ode-ao-choro
Ficha Técnica:
Direção, roteiro e produção: Cecilia Engels
Direção de Fotografia: Thaisa Oliveira
Som Direto: Enrico Porro
Edição: Cecilia Engels e Daniela Gonçalves
Consultoria de edição: Fernando Solidad e Joana Ventura
Edição de Som e Mixagem: Helena Duarte
Correção de cor: Thaisa Oliveira
Designer gráfico e motion: Bruno Bayeux
Trilhas Instrumentais: Gustavo Raulino
Elenco: Bettina Turner, Bianca Turner, Carol Pinzan, Cecilia Engels, Felipe Gomes Moreira, Gustavo Vinagre, Tânia Piffer
Gênero: documentário
País: Brasil
Ano: 2021
Duração: 71 min.
Canção: Oceano – Bárbara Malavoglia
Trilhas: Brinquedo – Nei Zigma
Corredeira – Felipe Gomes Moreira
Sou Toda Ouvidos – Sandra Ximenez e Felipe Julián
Buselik taksim – Evgenios Voulgaris
Festivais:
8th La Paz International Film Festival, Bolivia
Mostra Sesc de Cinema Estadual
Festival de Cine Devocional, Argentina
SAN JOSÉ INTERNATIONAL FILM AWARDS, Costa Rica
Arraial Cine Fest, Bahia, Brasil