Oeste Sem Lei, primeiro longa-metragem do diretor e roteirista John Maclean, foge dos padrões do faroeste. O seu título original, “Slow West” (oeste lento), parece ter sido escolhido para indicar uma nova abordagem a esse gênero tradicional do cinema. No filme, o ritmo não é acelerado por sequências de tiroteio e perseguições a cavalo, e adota um andamento mais cadenciado que convida à reflexão. Além disso, o seu arco dramático, da jornada com início, meio e fim, ilustra as transformações dos dois protagonistas.
O enredo
Silas (Michael Fassbender) narra a história que vivenciou ao aceitar conduzir um jovem de 16 anos, Jay Cavendish (Kodi Smit-McPhee), pelo velho oeste. Jay, filho de um lorde, vem sozinho da Escócia para a América para tentar encontrar Rose (Caren Pistorius) e o pai dela, que fugiram do país natal após serem responsáveis pela morte acidental do tio de Jay, outro lorde escocês. Silas sabe que o frágil e ingênuo Jay não chegaria muito longe sozinho, por isso concorda em ser pago para levar o rapaz até o seu destino.
Jay, porém, não sabe que há uma recompensa oferecida por quem trouxer Rose e seu pai vivos ou mortos. E que, além disso, Silas é um ex-caçador de recompensas. O espectador acompanhará essa viagem sempre incerto das reais intenções do pistoleiro.
A paisagem de Oeste Sem Lei já representa um diferencial na tradição dos westerns. Filmado na Nova Zelândia, o filme começa em locações onde a vegetação não é árida como no Velho Oeste americano. Depois, a jornada de Silas e Jay passará por um cenário deserto, similar ao dos filmes produzidos nos EUA. Mas as locações na Oceania trarão lembranças do faroeste Herança de um Valente (The Man from Snowy River, 1982), um clássico do cinema australiano. A beleza da fotografia nessa paisagem aproxima esses dois filmes.
Narrativa
Na estrutura narrativa, o diretor John Maclean opta por desvendar aos poucos os eventos que aconteceram na Escócia, e motivaram a vinda dos três personagens desse local para a América. Em flashbacks intermitentes, acompanhamos o desenvolvimento da paixão de Jay por Rose e o acidente trágico que forçou a garota e seu pai a fugirem do país. O espectador atento perceberá que a paixão de Jay é praticamente platônica, pois Rose nunca corresponde ao sentimento do rapaz, apesar de ser sempre agradável com ele. Essa ilusão de Jay é essencial na composição desse personagem que embarca numa missão praticamente impossível e consegue alcançar o seu destino, contrariando todas as probabilidades.
O arco do protagonista
O interesse maior em Oeste Sem Lei repousa na transformação do protagonista Silas durante a jornada. A pureza de Jay mostra-lhe uma faceta da vida que é novidade para ele. Em sua vida como caçador de recompensas, o dinheiro valia mais que as vidas, e essas mais que os sentimentos. Para Jay, a ordem dos valores é inversa. O amor que ele sente por Rose é a sua maior prioridade, colocado à frente até da sua vida, e, claro, mais ainda do que o dinheiro. Ele gasta tudo o que tem e arrisca sua vida por esse amor que é unilateral.
O desfecho da jornada de Jay só poderia ser trágico. Porém, não foi em vão, pois seu exemplo ensinou Silas a escolher uma vida menos violenta. Modificado fisicamente, pelos ferimentos que sofre, ele deixa para trás a profissão de caçador de recompensas e se torna um fazendeiro, cuidando não só de Rose, mas das duas crianças que ficaram órfãs duas vezes durante o trajeto.
Oeste Sem Lei, além disso, evidencia o custo dessa jornada em uma montagem que mostra rapidamente os corpos de todas as mortes que essa viagem testemunhou. Essa visão crítica sela definitivamente a constatação de que estamos diante de um faroeste incomum.
Ficha técnica:
Oeste Sem Lei (Slow West, 2015) Reino Unido/Nova Zelândia. 84 min. Dir/Rot: John Maclean. Elenco: Kodi Smit-McPhee, Michael Fassbender, Ben Mendelsohn, Caren Pistorius, Rory McCann, Michael Whalley, Brian Sergent, Edwin Wright, Stuart Martin, Kalani Queypo.