Oldboy exala um frescor de estilo que quebra barreiras. Trata-se de uma trama de vingança com rara originalidade que chega às telas com talento ímpar pelas mãos do diretor sul-coreano Park Chan-wook.
A narrativa caminha linearmente, exceto pela pequena introdução que mostra um momento um pouco mais à frente que logo o filme retoma. A cena seguinte indica uma direção desleixada, quase amadora, mostrando o protagonista Dae-su Oh detido na delegacia. Aliás, um verdadeiro contraste com o estilo rebuscado e moderno que caracterizará todo o filme.
Até mesmo a paleta de cores é diferenciada. Na delegacia, os tons são cinzas e brancos, mais realistas, enquanto que nas demais cenas interiores o verde e o vermelho saturados reforçarão a dramaticidade das situações. Logo que Dae-su sai da delegacia, ele é sequestrado e trancado em uma espécie de apartamento, de onde só sairá quinze anos depois, sem nunca saber por quê se encontrava ali.
Vingança
Livre, Dae-su deseja se vingar de seus algozes e descobrir o motivo do seu confinamento. E Mi-do, uma jovem que ele conhece em um restaurante o ajudará nessa jornada. Durante os quinze anos aprisionado, Dae-su aprendeu sozinho a lutar, o que o capacita a derrubar uma dezena de oponentes na antológica sequência de luta no corredor da prisão. Por fim, suas investigações o levam a descobrir que quem está por trás do plano é o ricaço Woo-jin Lee, mas ele precisa descobrir ainda o motivo.
Logo, Mi-do e Dae-su se apaixonam e fazem amor. Então, juntos, continuam a investigação, e descobrem que a origem do desejo de vingança de Woo-jin Lee remete aos tempos de colégio. Dae-su era um arruaceiro e uma de suas brincadeiras levou a um resultado trágico.
Violência
O filme Oldboy mostra muita violência gráfica, que dialoga com os contemporâneos Kill Bill: Vol.1 (2003) e Kill Bill: Vol. 2 (2004), de Quentin Tarantino. Mas, também com Laranja Mecânica (1971), na cena em que Dae-su arranca os dentes do carcereiro ao som de música clássica. Depois, quando a história revela a meticulosa estratégia de revanche, lembramo-nos novamente desses filmes de Tarantino, e da trama sádica de Jogos Mortais (2004).
Por outro lado, o diretor Park Chan-wook trabalha com inteligência a profundidade de campo, em várias sequências. Por exemplo, quando Dae-su e Woo-jin Lee se confrontam. Enquanto Lee, em primeiro plano, verbaliza suas ameaças e conta suas motivações, acompanhamos a reação de Dae-su ao fundo. Aliás, o filme todo exige que o espectador preste atenção nos detalhes aprecia-lo plenamente.
Na parte final, o público já se encontra totalmente absorvido pela história e envolvido com os personagens. Então, Park atinge o clímax emocional na angustiante e dolorosa súplica de Dae-su a Woo-jin, que resulta até em autoflagelo. Porém, o diretor não entrega a chave principal da trama de bandeja para o espectador. Ao invés de verbalizada, a revelação chocante surge de um álbum de fotografias. A primeira delas foi vista antes nas mãos de Dae-su na cena inicial da delegacia, juntamente com o par de asas de anjo que reaparece nesse momento. Dessa forma, pode-se desvendar que Woo-jin manipulou sua vítima para que ele cometesse o mesmo pecado que levou à morte de sua irmã.
Oldoy possui esse desfecho brilhante que encerra uma obra-prima. Definitivamente, o filme é brilhante desde o intrincado roteiro, uma adaptação de uma HQ, até a realização com toques autorais do diretor Chan-wook Park.
Ficha técnica:
Oldboy (Oldeuboy, 2003) Coréia do Sul. 120 min. Dir: Park Chan-wook. Rot: Park Chan-wook, Joon-hyung Lim, Jo-yun Hwang. Elenco: Min-sik Choi, Ji-tae Yu, Hye-jeong Kang, Dae-han Ji, Da-su Oh, Byeong-ok Kim, Seung-shin Lee, Jin-seo Yoon, Tae-kyung Oh, Yeon-Seok Yoo, Il-han Oo, Myung-shin Park.
Assista: entrevista de Park Chan-wook no BFI