Olhar Estrangeiro procura evidenciar a visão distorcida que o estrangeiro tem do Brasil, estimulada pela indústria cultural e, especificamente, pelo cinema.
Com base no livro “O Brasil dos Gringos”, a diretora Lucia Murat vai além da confortável crítica à distância. Com coragem, ela entrevista diretamente os envolvidos nas produções que ela elencou como exemplos dessa abordagem distorcida e repleta de clichês.
Incomodada com essa perspectiva estrangeira, Lucia Murat questiona produtores, diretores, roteiristas e atores de filmes que abordam o Brasil como um país exótico, altamente sexualizado, festeiro e pouco trabalhador. Por exemplo, Michael Caine precisa responder sobre os absurdos em Feitiço do Rio (Blame it on Rio, 1984), dirigido por Stanley Donen. Esse filme mostra mulheres de topless e até macacos na praia do Rio de Janeiro. A atriz Hope Davis, nessa situação, chega a se desculpar pelos erros em Próxima Parada, Wonderland (Next Stop, Wonderland. 1998).
Filmes esquecíveis
A análise não se restringe somente a produções norte-americanas. Philippe de Broca também é indagado sobre seu filme O Homem do Rio (L’homme de Rio, 1964), em que Jean-Paul Belmondo vem à capital fluminense resgatar Françoise Dorléac, sequestrada por bandidos.
Para sorte do Brasil, mas não tanto para o filme, todos os filmes apontados em Olhar Estrangeiro são facilmente esquecíveis, seja por sua qualidade ou por sua popularidade. Essa ponderação acaba por relativizar a tese do filme. Será que essas produções realmente foram responsáveis pelo viés distorcido dos estrangeiros em relação ao Brasil? Ou ele se deve a outro fator não relacionado ao cinema?
Ficha técnica:
Olhar Estrangeiro (2006) Brasil. 69 min. Dir: Lucia Murat. Rot: Tunico Amâncio, Lúcia Murat. Com Philippe de Broca, Michael Caine, Philippe Clair, Greydon Clark, Hope Davis, Larry Gelbart, Bon Jonsson, Zalman King, Gérard Lauzier, Édouard Luntz, Robert Ellis Miller, Jon Voight.