O curta documental Onde Eu Moro ganhou repercussão recente porque pode dar um Oscar a um cineasta brasileiro, o diretor Pedro Kos. O filme concorre ao prêmio de melhor curta documental na cerimônia que acontece amanhã, 27 de março de 2022. Se ganhar, Kos será o primeiro cidadão brasileiro a ganhar um Oscar. Vale ressaltar que a diretora de arte Luciana Arrighi, venceu o prêmio de sua categoria por Retorno a Howard’s End (Howard’s End, 1992), mas ela possui nacionalidades italiana e australiana. Assim, Kos poderá obter esse registro inédito, e será legítimo, porém, com um sentimento atenuado, porque será por uma produção dos EUA, por um codiretor brasileiro que se mudou para o país norte-americano na adolescência. De qualquer forma, será legítimo, e um rompedor de barreiras.
O curta
Onde Eu Moro mostra o lado selvagem do capitalismo. No berço do sistema, a quantidade de moradores de rua aumenta, e é esse o retrato que apresentam Pedro Kos e Jon Schenk. Seus registros captam essa realidade em Los Angeles, San Francisco e Seattle. O filme traz entrevistas com esses moradores e os locais onde vivem e algumas situações particulares, como intervenções de assistentes sociais e da polícia. Como um dos assistentes diz para a mulher que ele ajuda (Patricia Wilcox), o que separa as realidades deles é apenas o contracheque que ele recebe. Ou seja, se o desemprego bater à sua porta, com ele virá o proprietário do imóvel onde vive para despejá-lo.
Para o público americano, Onde Eu Moro serve como alerta para mudanças necessárias. Talvez, até uma intervenção da FEMA (Federal Emergency Management Agency), a Agência Federal de Gestão de Emergências que entra em ação quando ocorrem desastres. Os realizadores não expõem expressamente quais seriam as soluções. Porém, ao contrapor as vítimas desse problema, em reações emocionadas, com imagens de novos prédios sendo constantemente construídos nessas cidades, conseguem instigar a reflexão de opções que ferem o capitalismo de raiz, como habitações populares subsidiadas pelo governo, ou outras mais.
Por outro lado, Onde Eu Moro revela aos moradores dos demais países que, mesmo a nação mais rica do planeta possui questões não resolvidas. Basta caminhar pelas ruas adjacentes do centro de Los Angeles para constatar essa realidade.
O coletivo e o individual
No entanto, as repetidas intercalações de entrevistados, seja ao alinhar pequenas frases de cada um deles, ou ao trocar imagens enquanto só um deles responde, retira o poder da individualização das pessoas que vivem nas ruas. Funciona para coletivizar o problema, mas o impacto fica reduzido. Por isso, quando se concentra na moça que sofre agressões de um ex-companheiro, Onde Eu Moro se torna potente. Faltou, assim, encontrar o equilíbrio entre o coletivo e o individual. Mas, de qualquer forma, é um documentário revelador que pode surpreender quem desconhece o impacto da falta de moradia na atual conjuntura econômica e social dos EUA.
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Ficha técnica:
Onde Eu Moro | Lead Me Home | 2021 | Estados Unidos | 39 min | Direção: Pedro Kos, Jon Schenk.
Distribuição: Netflix.