A história contada em Órfã 2: A Origem (Orphan: First Kill) acontece antes do filme original, A Órfã (Orphan, 2009). É, portanto, uma prequel, que desenvolve um fato mencionado no primeiro filme. Mas, se você não assistiu ao filme de 2009, é melhor vê-lo primeiro. Isso porque o novo longa entrega logo no seu início a surpresa chocante que é o ponto alto da trama original. Afinal, a informação é necessária para o público que não viu o filme anterior. Aliás, já alerto que essa crítica aqui possui spoilers sobre os dois enredos.
A trama
Órfã 2: A Origem mostra o primeiro assassinato (o “first kill” do título original) não da vida de Esther (Isabelle Fuhrman), mas nos Estados Unidos. E explica como ela conseguiu sair da Estônia, onde estava internada em um manicômio, para a América. Ela finge ser a filha desaparecida do casal americano Tricia (Julia Stiles) e Allen (Rossif Sutherland). Como vimos no filme de 2009, Esther é uma mulher de 30 anos com uma deficiência de desenvolvimento que a faz parecer uma criança de nove anos. O novo filme indica, ao usar o termo “freak” em vários momentos, que sua psicopatia pode ter surgido após sofrer constantes bullyings por conta de seu problema. E, agora, ela quer fazer dessa família, que inclui o irmão mais velho Gunnar (Matthew Finlan), suas novas vítimas.
O roteiro de David Coggeshall, desenvolvido a partir da estória criada por David Leslie Johnson-McGoldrick (roteirista original) e Alex Mace (criador da estória original), tenta criar uma nova surpresa tão chocante quanto à do primeiro filme. Mas, com isso, quebra a essência do terror da trama, que é a aterrorizante figura de Esther. A nova revelação, sim, surpreende, porém, coloca a vilã no papel de vítima. E era a psicopatia da mulher com aparência de menina que sustentava o diferencial que justificava a existência dessa história. A inclusão de outro crime (e outros vilões) joga por terra essa distinção e o aproxima de várias outras tramas de assassinato.
Pelo menos, o enredo ajuda a preencher lacunas do primeiro filme. Por exemplo, explica como Esther foi parar num orfanato nos EUA, e onde ela aprendeu a técnica de pintar com uma camada dupla só visível com luz ultravioleta.
Diretor
William Brent Bell é um diretor especialista em terror. Todos os seus oito filmes, incluindo este, fazem parte do gênero. Entre eles, realizou Filha do Mal (The Devil Inside, 2012), protagonizado pela brasileira Fernanda Andrade, e Boneco do Mal (The Boy, 2016), seu melhor longa até agora. Órfã 2: A Origem está no mesmo nível deste, apesar de ser irregular.
O diretor comete aqui erros primários, como na cena em que não deixa claro que o guarda que vigia as câmeras de segurança no sanatório é o mesmo que vai até o quarto de Esther. Algo que seria resolvido com uma simples tomada mostrando o personagem se levantando de sua cadeira. Além disso, o emprego de um filtro nas lentes deixa o filme com cara de exemplares do terror dos anos 1970. Mas, é um efeito gratuito, que mais incomoda do que enriquece a narrativa, pois esta não tem nada que o relacione a essa época.
Porém, Órfã 2: A Origem traz uma ou outra cena memorável para os fãs do gênero. Por exemplo, o smoothie que Esther prepara para a mãe com um ingrediente especial dentro tem grande impacto. E essa cena ainda se conecta belamente com a seguinte, através da transição do ralo para a luminária da estação de trem.
Elenco
Quanto ao elenco, Isabelle Fuhrman continua assustadora. Embora agora conte com 23 anos (na época das filmagens), contra os 11 do filme de 2009, ela aparenta (com ajuda de efeitos digitais) a menina de 9 ou 10 anos que a trama exige. E a escolha de Julia Stiles no papel da mãe é acertada, pois seus traços faciais, principalmente a boca, estão próximos aos de Isabelle Fuhrman. Porém, Stiles não assusta quando precisa. Mas, se Esther parece menos letal do que antes não é culpa da atriz que a interpreta, mas da narrativa que a coloca como vítima dos outros vilões. Enfim, voltamos a esse erro crucial que torna Órfã 2: A Origem inferior ao filme original, e só um pouco acima da média.
___________________________________________
Ficha técnica:
Órfã 2: A Origem | Orphan: First Kill | 2022 | 1h39 | EUA, Canadá | Direção: William Brent Bell | Roteiro: David Coggeshall | Elenco: Isabelle Fuhrman, Julia Stiles, Rossif Sutherland, Hiro Kanagawa, Matthew Finlan, Samantha Walkes, Gwendolyn Collins.
Distribuição: Diamond / Galeria.