Os Anos do Heavy Metal – O Declínio da Civilização Ocidental
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Os Anos do Heavy Metal – O Declínio da Civilização Ocidental

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Após trazer para as telas o universo punk de Los Angeles em The Decline of Western Civilization, em 1981, Penelope Spheeris retrata agora outra geração. É a do heavy metal, em Os Anos do Heavy Metal – O Declínio da Civilização Ocidental.

Depoimentos sinceros

Como no filme anterior, Penelope faz o melhor uso de sua habilidade em arrancar depoimentos sinceros dos seus entrevistados. E esse seu método fica evidente quando assistimos aos extras do dvd, com íntegras de algumas das entrevistas do filme. Sem julgamentos, ela estimula o entrevistado a falar abertamente. Quando necessário, corrige o rumo da conversa se ela caminha para devaneios que não levam a lugar nenhum. Depois, o material é editado inteligentemente para se encaixar nos assuntos que são apresentados em outra ordem no filme.

Os registros foram capturados em Los Angeles entre agosto de 1987 e fevereiro de 1988. Ou seja, quase uma década depois do movimento punk. Analisando as entrevistas de pessoas anônimas e artistas, fica evidente a diferença na motivação das duas gerações. Por um lado, o punk fundamentava sua atitude rebelde no niilismo e no anti-establishment. Por outro, o heavy metal se alimenta do materialismo yuppie que reinou nos anos 1980 para criar uma rebeldia contra os empregos burocráticos. Mas, defendendo o trabalho árduo para viverem como artistas.

Hedonismo

Agora, o hedonismo substitui o niilismo, e o prazer pleno é buscado, principalmente, no sexo. Ao contrário dos punks, os adeptos do heavy metal cultuam a aparência. Nesse sentido, vão a exageros nos cabelos laqueados e na maquiagem pesada. Por isso, os rapazes não veem problema em se parecerem com mulheres, porque o sexo é um dos principais objetivos da vida desse universo. De fato, as mulheres espontaneamente se candidatam a torneios de strip-tease nas casas noturnas da Sunset Boulevard, como aperitivo dos shows. Com isso, deixam claro que, nesse ambiente, não há motivos para homens ou mulheres serem depreciados como objetos sexuais.

Outro contraponto com o punk surge na abordagem em relação às drogas pesadas. Muitos músicos mais experientes do heavy metal já passaram por isso na década de 1970, simultaneamente aos punks. E agora tentam se recuperar. Ozzy Osbourne, Steven Tyler, Joe Perry, etc, se encontram nesse estágio, e desestimulam o uso de drogas. Outros, como os músicos do Kiss, Gene Simmons e Paul Stanley, abertamente pregam contra as drogas.

Álcool

Em relação ao álcool, a atitude é mais liberal. Apesar de alguns músicos se declararem alcoólatras, as bebidas fazem parte da diversão desse objetivo hedonista do heavy metal. E o depoimento mais marcante é o de Chris Holmes, guitarrista do WASP, então com 29 anos. Em cima de uma boia, ele flutua na piscina bebendo vodca direto da garrafa. Então, já embriagado, defende seu comportamento autodestrutivo. E, por mais inusitado que pareça, a sua mãe está ao lado dele, sentada na beira da piscina, participando da entrevista. Curiosamente, Holmes continua vivo e na ativa nos dias de hoje.

Ao contrário dos músicos punks, muitos dos entrevistados do heavy metal fizeram muito sucesso. E não apenas os que começaram na década anterior, como Aerosmith, Kiss, Ozzy e Lemmy. Por exemplo, Penelope entrevista membros do Poison, que vendeu milhões de discos, e do Megadeth, que até agora mantém uma carreira sólida. Adicionalmente, para manter a estrutura do filme anterior, a diretora coloca performances de bandas menores. Por exemplo, Lizzy Borden, Faster Pussycat, Seduce, London e Odin.

Bons músicos

Logo nos primeiros acordes que ouvimos em uma apresentação ao vivo no filme, do Lizzy Borden tocando a cover de “Born to be Wild”, fica escancarada a qualidade superior dos músicos em comparação com aqueles das bandas punk de The Decline of the Western Civilization. E isso reflete a diferente filosofia das duas tribos. Afinal, os artistas do heavy metal não só não possuem aquela objeção ao sucesso, como colocam isso como um objetivo. Por isso, trabalham duro para chegar lá.

Porém, quando a intenção é vazia, e o objetivo se resume ao materialismo do dinheiro e do artificialismo da fama, a vontade e a dedicação não são suficientes para vencer. É o que prova a banda Odin, que transpira ambição citando apenas esses tipos de recompensa. O documentário veladamente prevê o destino deles. Hoje, já sabemos que o Odin não chegou a lugar nenhum.

Por outro lado, Alice Cooper, em certo momento, se diz incomodado com seus imitadores. Até chega a citar o primeiro nome de um deles, mas Penelope coloca um sinal de bipe que torna essa acusação inaudível. Mas, no dvd, é possível resgatar essa informação: ele fala de Blackie Lawless, do WASP.

Por fim, Os Anos do Heavy Metal – O Declínio da Civilização Ocidental comprova o talento de Penelope Spheeris em captar a essência dos seus entrevistados. O objeto do registro é outro, mas o resultado é igualmente revelador.


 

Ficha técnica:

Os Anos do Heavy Metal – O Declínio da Civilização Ocidental (The Decline of Western Civilization Part II: The Metal Years, 1988) EUA. 93 min. Dir: Penelope Spheeris. Elenco: Joe Perry, Steven Tyler, Gene Simmons, Alice Cooper, Paul Stanley, Lemmy, Ozzy Osbourne, Bobby Dall, Bret Michaels, Rikki Rockett, Joey Scott Harges, Chris Holmes, C.C. DeVille,  Bill Gazarri, Lizzie Grey, Sandy Holmes, Roxanne Kernohan, Share Pedersen, Roxy Petrucci, Darlyne Pettinichio, Jenna Thompson, David White, Gene Allen, Mychal Davis, J. Holmes, Mark Michals, Brent Muscat, Eric Stacy, Greg Steele, Mark Andrews, David Black, Chuck Burns, Randy O, Jeff Duncan, Shawn Duncan, Aaron Sansom, Frankie Jones, Brian West, Dave Mustaine, Dave Ellefson, Jeff Young, Chuck Behler, Lisa Altamirano, Cathy Amanti, Tammy Aseltine, Lisa Michelle Axelrod, Janet Gardner, Jan Kuehnemund, Stevie Rachelle, Riki Rachtman, Kristine Raney, Teri Weigel, Julie Wilson.

Trailer original:

Leia também: crítica do filme The Dirt (biografia do Mötley Crüe).

Os Anos do Heavy Metal – O Declínio da Civilização Ocidental
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