O filme Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre relata um acontecimento conhecido do Japão medieval, que já dera origem a peças dos teatros Nô e Kabuki.
Em 1185, o lorde Yoshitsune Muramoto parte para uma província do norte do Japão em busca de refúgio. Seu irmão, o xogum Yoritomo, quer matá-lo, pois seu conselheiro Kajiwara o convence que Yoshitsune é um traidor.
Assim, Yoshitsune reúne seis guardas de confiança e parte nessa jornada de fuga. Os guardas se disfarçam de monges e o lorde de carregador. Ao grupo se junta um carregador de verdade, um homem engraçado e falador que servirá como alívio cômico do filme.
O grande desafio será passar pela barreira de inspeção na cidade de Naka sem que descubram suas identidades verdadeiras. Lá, são interrogados pelo administrador local, Togashi (interpretado por Susumu Fujita, de A Saga do Judô), que acredita na história do monge. Porém, um encarregado de Kajiwara levanta suspeitas.
Quando o monge surra o seu lorde, disfarçado de carregador, Togashi se convence que ele não é Yoshitsune. Afinal, nenhum vassalo bateria no seu lorde. O grupo segue adiante, e, no caminho, homens de Togashi os alcançam para lhes presentear com sakê.
Um belo exercício de entretenimento
A graça dessa história não repousa somente na ideia de conseguir convencer o administrador usando a tradição da relação lorde e vassalo. Mas também porque descobrimos que Togashi sabia que um dos carregadores era Yoshitsune disfarçado. E, mesmo assim, resolveu deixá-lo prosseguir porque, provavelmente, não acreditava na desconfiança de Kajiwara. Isso não fica explícito no filme, mas é revelado sutilmente quando o empregado de Togashi quase faz uma reverência ao lorde disfarçado de carregador, ao oferecer o sakê.
Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre possui muita música. As canções não diegéticas (que não existem dentro da cena) conduzem a narrativa em suas letras, mas os personagens não as cantam. Já as canções diegéticas surgem dos cantos do monge e da dança do carregador engraçado. Assim, juntando esses dois tipos de músicas, o filme acaba incorporando boa parte de sua curta duração em trechos musicais, o que ajuda na condução do ritmo do filme, que praticamente não tem nenhuma cena de luta, mesmo sendo do subgênero samurai.
Em suma, Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre é um filme rápido e agradável, num belo exercício de entretenimento de Akira Kurosawa.
Ficha técnica:
Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre (Tora no o wo fumu otokotachi, 1945) Japão. 59 min. Dir/Rot: Akira Kurosawa. Elenco: Denjiro Okochi, Susumu Fujita, Ken’ichi Enomoto, Masayuki Mori, Takashi Shimura, Akitake Kono, Yoshio Kosugi, Hanshiro Iwai, Dekao Yokoo, Yasuo Hisamatsu, Soji Kiyokawa.