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Os Mortos Não Morrem (filme)
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Os Mortos Não Morrem

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Antes de Os Mortos Não Morrem (The Dead Don’t Die, 2019), Jim Jarmusch realizou os elogiados Paterson (2016) e Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013). Parecia que ele emplacaria outro bom filme, pois estava com um enredo promissor: uma sátira de terror que critica o consumismo através da analogia entre as pessoas em geral e os zumbis. A ideia era: ambos estão mortos – os zumbis no filme conseguem falar uma palavra, e essa se refere sempre ao produto que eles desejam. Ou seja, uma vida (ou morte) dedicada a comprar, comprar, comprar.

Além disso, Jarmusch, também autor do roteiro, rodou Os Mortos Não Morrem cercado de amigos, atores com quem já trabalhou antes. Até sua esposa Sara Driver está presente como a zumbi que invade a cafeteria, assim resgatando uma parceria do filme de estreia do diretor, Férias Permanentes (Permanent Vacation, 1980). O resgate envolve, também, Eszter Balint, atriz do segundo filme de Jarmusch, Estranhos no Paraíso (Strangers in Paradise, 1984). Da mesma forma, está Tom Waits, protagonista da obra mais famosa do cineasta, Daunbailó (Down by Law, 1986), e do longa de vinhetas Sobre Café e Cigarros (Coffee and Cigarettes, 2003). Deste, retornam também Steve Buscemi, RZA e Iggy Pop, além de Bill Murray, que depois estrelou Flores Partidas (Broken Flowers, 2005).

Até intérpretes mais recentes, como Adam Driver e Tilda Swinton, repetem a dose jarmuschiana. Driver protagonizou Paterson, e Swinton esteve em Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013) e Os Limites do Controle (The Limits of Control, 2009).

Outros atores famosos marcam presença em Os Mortos Não Morrem. Por exemplo, Danny Glover, Chloë Sevigny, Rosie Perez, Carol Kane, Selena Gomez… Enfim, com um elenco de dar inveja e um argumento instigante, o que poderia dar errado?

O que dá errado

O roteiro parece ser o problema do filme. Existe uma linha narrativa central que funciona. E esta dá voz à ideia que deu origem ao projeto. Ou seja, zumbis surgem numa pequena cidade chamada Centerville, famintos por carne humana e movidos por memórias afetivas do tempo em que estavam vivos. Invariavelmente, referem-se a coisas que se pode adquirir comprando, o que revela a crítica ao consumismo. A história tem o contraponto desse comportamento, materializado no ermitão Hermit Bob (Tom Waits), que abdicou dos bens materiais e vive acampado na floresta. Por isso, ele é o único sobrevivente do ataque dos zumbis.

Porém, essa espinha dorsal da estrutura narrativa perde força por causa dos demais elementos. Talvez a quantidade grande de atores disponíveis no elenco tenha obrigado Jarmusch a criar personagens e situações para que todos pudessem entrar no filme. As cenas com a personagem de Selena Gomez e seus dois amigos dão essa impressão. De passagem pela cidade, logo viram vítimas, e a única função deles em conexão com o tema central parece ser o carro deles, um Pontiac antigo raro que recebe vários elogios, um reflexo da tolice do consumismo.

Em sentido inverso, a personagem de Tilda Swinton é uma das mais interessantes. Ela faz uma estranha mulher platinada com destreza supernatural no manuseio da espada, lembrando a personagem de Kill Bill (2003/2004). Carismática, Swinton fala com um sotaque escocês forçado e anda de forma inumana. Pena que o destino dela acaba revelando um dos grandes erros do filme, que é extrapolar demais o fantástico, inerente ao terror, caindo na paródia.

Quase uma paródia

Esse defeito surge com mais evidência nos trechos em que o filme embarca na metalinguagem. Os policiais Cliff Robertson (Bill Murray) e Ronnie Peterson (Adam Driver), na maior parte das vezes, são os personagens que entram nessa área. Por exemplo, quando ligam o rádio e ouvem “The Dead Don’t Die”, e um deles comenta: “Por que essa música soa tão familiar?”. Então, o outro responde: “É porque é a música-tema.” De fato, nós espectadores, acabamos de ouví-la durante os créditos iniciais.

Em outro momento, posterior, mais escancaradamente ainda, Ronnie diz que sabia que tudo ia acabar mal, explicando: “Eu sei porque eu li o roteiro.”. E Cliff retruca: “O roteiro inteiro? O Jim só me deu minhas partes para eu ler.” Na verdade, são piadas engraçadas, só que não combinam com esse filme que possui uma intenção crítica séria e inclui cenas de violência gore explícitas. Serviriam para paródias escrachadas, como Todo Mundo em Pânico (Scary Movie, 2000).

Por outro lado, Os Mortos Não Morrem está repleto de referências, os easter eggs, como se acostumou chamá-las. Nesse sentido, temos o uso de nomes como Samul M. Fuller, a abertura num cemitério de uma cidade pequena interiorana típica de A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968), ou o chaveiro com a nave de Star Wars do personagem de Adam Driver (ator da franquia).

Na conclusão, Jim Jarmusch despreza a capacidade do espectador de absorver a mensagem anticonsumista, ao inserir uma fala do ermitão comparando os zumbis às pessoas que desperdiçam suas vidas preocupadas com futilidades. Como se a imagem icônica dos zumbis com celulares nas mãos procurando sinal de wi-fi já não fosse o bastante para entendermos essa intenção.


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