O documentário Osvaldão conta a história de Osvaldo Orlando da Costa, um dos principais integrantes da Guerrilha do Araguaia, movimento criado pelo Partido Comunista do Brasil sufocado pelos militares da ditadura no início da década de 1970.
Importância histórica
Acima de tudo, como o regime militar manteve sob sigilo esta ação até o início da redemocratização, vinte anos depois, esse registro fílmico possui grande relevância histórica para revelar essa memória.
O assunto ganhou as telas também em Araguaya – A Conspiração do Silêncio (2004), de Ronaldo Duque, Araguaia, presente! (2018), de Arthur Moura e André Queiroz, Soldados do Araguaia (2018), de Belisário Franca, bem como em Camponeses do Araguaia – A Guerrilha Vista por Dentro (2010), de Vandré Fernandes, um dos diretores de Osvaldão.
A narrativa
O filme se inicia com um prólogo com narração em primeira pessoa, gravada pelo rapper Criolo, como se fosse o Osvaldão. Nesse segmento, a câmera acompanha um ator interpretando-o enquanto se movimenta pelas matas. Adicionalmente, cortes rápidos de um culto do candomblé entrecortam esse segmento introdutório. Depois, esse recurso da dramatização será retomado brevemente durante o restante do documentário, incluindo a versão criança de Osvaldo em Passa Quatro (MG).
Em suma, a narrativa de Osvaldão acompanha a ordem cronológica, começando com sua infância na cidade mineira, onde nasceu em 1938. Juntamente com um antigo documentário da época sobre o local, surgem os depoimentos de familiares e amigos do futuro guerrilheiro. Além disso, a visita à escola que frequentou ganha relevância para ressaltar o fato de que seu pai insistiu que ele estudasse, algo raro naqueles tempos para um negro.
Eventualmente, a decisão do pai em matricular Osvaldo foi essencial para depois ele partir de Passa Quatro e se aprofundar nos estudos no Rio de Janeiro, onde se filiou aos movimentos estudantis. E, em seguida, seguiria para a República Tcheca, oportunidade para inserir no documentário cenas de um filme tcheco sobre os estudantes estrangeiros, que contou com Osvaldão como um dos retratados. E o teor das cartas de Osvaldo à família, lidas no filme, comprovam como o futuro guerrilheiro era culto.
Adicionalmente, outra formação vital para Osvaldão foi o treinamento para guerrilhas que realizou na China, imediatamente após o Golpe Militar. Seis meses depois, ele retorna para se juntar à Guerrilha do Araguaia.
Análise do filme
A partir desse trecho, o documentário perde sua força justamente no momento potencialmente mais dramático. Nesse sentido, a atividade de Osvaldão como guerrilheiro é relatada perifericamente, através de entrevistas com os moradores locais que o conheceram. Apesar de os depoimentos guardarem consistência entre si, eles não revelam como a guerrilha estava se preparando, quais eram os planos e em que estágio se encontrava em relação a uma ação contundente na direção de seus objetivos.
A Guerrilha do Araguaia poderia ter resultado em uma revolução socialista similar ao que aconteceu em Cuba e na China. Porém, o filme Osvaldão não consegue se aprofundar nessa questão, e nem em como essa figura central atuava dentro desses planos, especificamente. Não é culpa dos realizadores. O regime militar escondeu todas as evidências da guerrilha, até mesmo os corpos de Osvaldo Orlando da Costa e seus companheiros, todos mortos pelas Forças Armadas. Restaram apenas as memórias dos colonos, material garimpado e exposto aqui para não ser apagado da história do Brasil.
Ficha técnica:
Osvaldão – Brasil, 77 min. Dir: Ana Petta, Andre Michiles, Fabio Bardella, Vandré Fernandes. Rot: Vandré Fernandes. Elenco: Criolo, Leci Brandão, Antonio Pitanga, Flávio Renegado, Fernando Szegeri, Messias Macedo Souza, Brás Martins da Silva.