Pânico na Floresta não traz nada muito original, mas consegue ser acima da média dos filmes de terror slasher. O mérito principal é do roteiro de Alan B. McElroy, que consegue desenvolver uma sucessão de situações instigantes a partir de uma premissa claramente chupada de O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre, 1974). Em suma, três seres deformados física e psiquicamente, crias de relações incestuosas, caçam humanos que entram em uma estrada secundária no meio da mata do estado de West Virginia (EUA), com o objetivo de comê-los.
Rapidamente, o filme apresenta esse cenário. Primeiro, com um prólogo no qual dois alpinistas solitários enfrentam o perigo dessa região. Em seguida, durante os créditos iniciais, manchetes dos jornais revelam a lenda desses seres monstruosos e várias pessoas desaparecidas, intercaladas de flashes com terror sugerido. Então, quando começa a história, acompanhamos o protagonista Chris Flynn (Desmond Harrington) que dirige sozinho pela estrada para chegar a uma entrevista de emprego. Porém, um acidente de caminhão bloqueia o caminho por horas, e ele resolve seguir por uma estradinha de terra. Bate seu carro em outro, que estranhamente teve seus pneus estourados por um arame farpado. Nesse veículo, estão Jessie (Eliza Dushku) e mais dois casais. Chris, Jessie e um dos casais seguem a pé pela estrada para buscar ajuda, enquanto o outro casal fica junto com o carro. E, logo, a caçada humana se inicia.
Suspense, terror e personagens
O filme tem alguns bons momentos, em meio a truques conhecidos que nem sempre funcionam. Por exemplo, jump scares, bichos mortos, brincadeiras entre os amigos etc. O primeiro trecho de destaque está no suspense eficiente da invasão da casa dos canibais. O local, lúgubre, se torna cada vez mais sinistro, até encontrarem uma mão humana um pouco antes de os donos da casa se aproximarem. A agonia, não só dos personagens como também dos espectadores, aumenta quando os quatro mocinhos da trama se escondem dentro da casa e testemunham as atrocidades que seus amigos mortos sofrem. O fato de ainda não termos visto a aparência desses monstros aumenta ainda mais o medo.
Uma outra ideia interessante é o refúgio que os três sobreviventes encontram numa torre de vigia florestal, aquelas construções de madeira muito altas no meio da mata. E, isso conduz a uma original perseguição em cima de uma árvore gigante.
A caracterização dos vilões é um tanto exagerada, monstruosa demais. A justificativa é a deformação por mutação genética devido a sexo incestuoso, mas não precisava torná-los criaturas tão bestiais e com força sobre-humana. Por outro lado, os mocinhos aqui são personagens que facilmente causam empatia com o público, com exceção do casal que fica junto ao carro e que logo morre. São, também, espertos, uma tendência que os filmes de terror têm seguido e que funciona melhor do que mostrar pessoas sempre tomando a pior decisão. Dessa forma, quando eles conseguem escapar dos vilões, a solução parece mais aceitável.
Direção, roteiro e elenco
Enfim, Pânico na Floresta funciona, envolve o espectador, cria suspense e assusta em alguns momentos. Por isso, gerou mais seis sequências. A mais recente delas, Pânico na Floresta: A Fundação (Wrong Turn, 2021), é a única escrita por Alan B. McElroy, o roteirista deste primeiro filme. McElroy se tornou um requisitado escritor de episódios de séries, além de ser autor de roteiros de longas, como o bom suspense Fratura (Fractured, 2019), da Netflix.
Já o diretor Rob Schmidt não se deu tão bem. Continua sempre trabalhando, mas não realizou nada de grande relevância. Destaca-se, se muito, o filme O Assassino do Alfabeto (The Alphabet Killer, 2008), no qual voltou a dirigir Eliza Dushku. Aliás, a atriz se revelou o nome de maior calibre em Pânico na Floresta. Após surgir como a outra caça-vampiros na série Buffy (1998-2003) e no seu spin-off Angel (2000-2003), Eliza Dushku protagonizou duas séries: Tru Calling (2003-2005) e Dollhouse (2009-2010), esta última criada por Joss Whedon (o mesmo de Buffy). Quanto a Desmond Harrington, o intérprete de Chris Flynn acabou seguindo carreira como personagens secundários em diversas séries e alguns filmes.
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Ficha técnica:
Pânico na Floresta | Wrong Turn | 2003 | Alemanha, Estados Unidos | 84 min | Direção: Rob Schmidt | Roteiro: Alan B. McElroy | Elenco: Eliza Dushku, Desmond Harrington, Jeremy Sisto, Emmanuelle Chriqui, Kevin Zegers, Lindy Booth, Julian Richings, Garry Robbins, Ted Clark.