Pantera Negra: Wakanda para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever) se mostra tão permeável aos fatores externos quanto o filme original. Nesse sentido, Pantera Negra (2018) amplifica o público receptor da mensagem antirracista de Fruitvale Station (2013), longa de estreia do seu diretor Ryan Coogler. Aliás, para muitos, especialmente para os espectadores não-estadunidenses, essa bandeira esteve tão evidente que até atrapalhou o desenvolvimento da trama em si. Desta vez, o elemento exterior vem da precoce morte do ator Chadwick Boseman (1976-2020), intérprete do personagem principal T’Challa (o Pantera Negra).
A solução para realizar uma sequência foi a mais sensata. Quem herda os superpoderes do Pantera Negra é alguém que tem o seu sangue, a sua irmã Shuri, ainda que a atriz que a personifica, Letitia Wright, não seja forte fisicamente. Na verdade, o talento da personagem está no seu cérebro, em sua habilidade com a avançada tecnologia de Wakanda. Se fosse pelo físico, o natural seria que Nakia, a mulher de T’Challa fosse a escolhida, pois a atriz Lupita Nyong’o tem corpo musculoso, além de ser mais conhecida do público. Assim, a produção do filme merece consideração por não sucumbir a esse caminho mais fácil e mais comercial. A decisão a favor de Shuri é acertada, pois faz muito mais sentido na trama.
Se a morte de Chadwick obrigou a essa adaptação na nova história, a opção de homenagear o ator com um minuto de silêncio no início e no final foi uma arbitrariedade. Certamente, provocada pela comoção que essa perda provocou em todos os envolvidos. Mas que comprova a tendência dessa franquia de manter essa franquia em forte relação com o que acontece fora da trama.
Namor, o herói sem amor
A primeira parte desse longo filme, de 2 horas e 41 minutos de duração, se esforça para apresentar esse novo cenário na vida de Wakanda, e a relação dessa nação com os outros países. O tempo passa lentamente, pois já conhecemos esse povo com tecnologia mais avançada do que a do restante do mundo. Além disso, acompanhamos ainda alguns personagens americanos com influência na burocracia política. Podem ser importantes para a trama, mas suas cenas deixam ainda mais entediante essa parte do enredo.
O filme melhora quando um novo super-herói (ou super-vilão?) se identifica. Ele é Namor, o Príncipe Submarino da Marvel, aquele ser mutante que tem capacidade de respirar dentro e fora da água, e ainda tem asas nos tornozelos que o permitem voar. Sua velocidade e força descomunal levam o personagem para aquele grupo de super-heróis que podem ficar chatos por serem quase imbatíveis. Mas o interesse no filme aumenta mesmo quando conhecemos a sua origem, aqui ligada aos astecas. Por isso, sua cidade escondida, Talokan, fica em território hoje mexicano. Seu espírito guerreiro o leva a ações extremas diante do perigo eminente de os outros países descobrirem sua localização. O enredo lida com a dúvida se Talokan será um inimigo ou aliado de Wakanda. A parte final deixa a evidente crítica que as grandes potências mundiais de hoje é que são os vilões.
Uma franquia antenada
Pantera Negra: Wakanda para Sempre consegue se adaptar à perda do astro do primeiro filme, com soluções interessantes para substituí-lo na trama e não com artifícios de computador. O filme se arrasta na primeira parte, ganha fôlego com a apresentação do Namor. Mas, quanto às cenas de ação, o embate final entre a nova Pantera Negra e esse mutante decepciona, pois precisa encerrar com uma mensagem de paz.
Enfim, como no filme original, Pantera Negra: Wakanda para Sempre deve agradar ao grande público, principalmente o americano. No primeiro, por causa da bandeira a favor dos negros (como o próprio nome do herói incentiva). Agora, pela comoção pela morte de Chadwick Boseman.
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Ficha técnica:
Pantera Negra: Wakanda para Sempre | Black Panther: Wakanda Forever | 2022 | 2h41 | EUA | Direção: Ryan Coogler | Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole | Elenco: Letitia Wright, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Winston Duke, Angela Bassett, Tenoch Huerta, Martin Freeman.
Distribuição: Disney.