O filme Pari apresenta uma perspectiva diferenciada do tema da jornada de uma mãe em busca do filho perdido.
A trama
A mãe é a iraniana Pari. Ela e o marido Farrokh chegam à Grécia para encontrar o filho Babak, que não veem há dois anos, desde que ele se mudou para lá para estudar. Mas Babak não aparece no aeroporto para buscá-los, como combinado.
Para piorar, é a primeira viagem ao exterior do casal. Além disso, eles não falam grego, e, sozinhos nessa cidade que não conhecem, Pari tenta se virar com um inglês básico para procurar o filho.
Então, ao seguir os caminhos trilhados por Babak, Pari passa por locais obscuros de Atenas e vive experiências que nunca sequer imaginou enquanto estava no Irã. E, sendo uma religiosa conservadora, ela encara situações apavorantes com a coragem que somente o amor de mãe pode produzir.
Análise do filme
Em seu primeiro longa-metragem, o diretor iraniano Siamak Etemadi proporciona ao espectador a gradual desconstrução da perspectiva da personagem da mãe, principalmente em relação a si mesma. Por isso, o filme sempre acompanha as suas ações, exceto na parte final. Então, neste trecho, a câmera capta a festinha das prostitutas com os marinheiros para deixar claro que Pari não participa dela. Em seguida, um dos tripulantes observa Pari na borda do navio, evidenciando que ela agora reflete sobre a situação a partir de um ponto de vista diferente, não mais autocentrado.
Enquanto isso, a pista sobre o que motiva o filho a fugir surge no meio do filme, na frase dita pelo camarada dele das lutas pelo socialismo. Segundo ele, não era do pai que ele estava fugindo. Porém, naquele instante, Fari não reconhece a dica. A mãe só absorverá a percepção que o filho tem dela quando a prostituta amiga dele conta que Babak a descrevia como ultra religiosa, jocosamente como “esposa do aiatolá”.
Essencialmente, a trama do filme Pari parece ser uma variação extrema da estória universal da mãe que sufoca o filho e que precisa aprender a deixá-lo caminhar sozinho, para aprender a viver e amadurecer. No momento crucial do filme, a mãe de Babak descobre que ele está feliz.
Ritmo ágil
Dessa forma, o filme caminha rapidamente, acompanhando a busca da mãe. As cenas percorrem bairros totalmente diferentes dos cartões postais de Atenas, como a região central chamada de Exarchia, toda pichada e palco de manifestações políticas com confronto policial. Adicionalmente, a trilha inclui ainda perigosos bairros de prostituição, colocando o filme próximo de uma aventura, onde a protagonista até arrisca sua integridade física.
Enfim, esse ritmo ágil, aliado a uma vigorosa interpretação da atriz iraniana Melika Foroutan no papel principal, torna Pari um filme que entretém e convida a uma reflexão.
Pari está na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, dentro da Competição Novos Diretores, e foi visto por nós na cabine de imprensa.
Ficha técnica:
Pari | 2020 | Grécia/França/Holanda/Bulgária, 101 min. Dir/Rot: Siamak Etemadi. Elenco: Melika Foroutan, Shahbaz Noshir, Sofia Kokkali, Argyris Pandazaras, Lena Kitsopoulou, Dimitris Xanthopoulos.