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Peregrinação (filme)
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Peregrinação

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Em Peregrinação, John Ford constrói um drama contundente sobre uma mãe possessiva.

O enredo

Em Three Cedars, Arkansas, a viúva Hannah Jessop quer manter o filho Jimmy em casa, ajudando-a a cuidar da fazenda. Porém, ele já se tornou adulto e está apaixonado pela vizinha Mary, com quem pretende se casar. Para evitar isso, Hannah alista o filho no exército. Mary descobre que está grávida, mas já é tarde demais para evitar que Jimmy vá para a guerra. Nas trincheiras francesas da Primeira Guerra Mundial, Jimmy morre.

Dez anos depois, ela ainda mantém distância do seu neto e de Mary. Quando Hannah viaja para a França para visitar o túmulo de seu filho, ao lado de outras mães na mesma situação, ela finalmente reconhece o mal que fez no passado.

O tema

No lançamento de Peregrinação, uma das frases para sua promoção dizia: “Todos que têm uma mãe precisam assistí-lo!”. No entanto, o que melhor representaria o espírito do filme seria: “Todos as mães precisam assistí-lo!”. Afinal, o filme não leva a compreender a intenção da protagonista Hannah Jessop. Pelo contrário, a intenção é de não repetir o seu erro.

Claramente, a história que vemos na tela escancara o egoísmo de Hannah. Tanto que, quando ela toma a atitude unilateral de alistar o filho para a guerra, o homem encarregado dessa função se surpreende com sua atitude. “Você é a primeira mulher a vir aqui e entregar o filho.”, diz ele.

Antes, Jimmy até estava considerando ir para a guerra, para ficar independente da mãe. Mas, mudara de ideia para se casar com Mary. Por fim, sua mãe acabou decidindo por ele, e o rapaz é impedido de se livrar do alistamento, mesmo quando sabe que sua namorada está grávida dele.

Durante a viagem para Paris, Hannah testemunha o sofrimento de todas as mulheres que perderam o filho na guerra. Ao contrário delas, Hannah foi a única a deliberadamente enviar o filho para o front. Então, já com sua consciência despertada, ela conhece um rapaz que está na mesma situação de Jimmy dez anos atrás. Dessa forma, percebe o seu erro, e evita que a mãe desse rapaz o repita.

Direção de John Ford

Visivelmente, as filmagens de Peregrinação acontecem quase totalmente dentro de cenários construídos em estúdio. Por isso, John Ford se esforça para incluir nuances que desviam dessa limitação.

Por exemplo, ele trabalha a profundidade de campo para dar dinamismo ao início da cena em que a mãe alista o filho. De dentro do posto de alistamento, que é apenas um livro oficial dentro de uma barbearia, vemos pelo vidro da janela a charrete de Hannah se aproximando do local. Ao mesmo tempo, observamos o poster do Tio Sam recrutando voluntários. Enfim, é um plano bem trabalhado que um diretor comum não se daria ao trabalho de filmar.

Outra cena que merece destaque introduz comédia nesse triste drama sobre arrependimento. O taxista que levou Hannah e o rapaz embriagado para casa se enfurece pelo baixo valor que recebe pela corrida. Então, para enfatizar o escândalo do motorista, Ford faz a câmera passear pelas janelas dos prédios ao redor, onde os moradores saem para olhar a confusão.

Por fim, é ousado o congelamento da imagem de Hannah com a mão na cabeça, ao perceber que o rapaz em Paris está vivenciando o que seu filho sofreu por sua causa. Sobre o freeze frame, vemos o flashback em sobreposição, deixando claro o que passa em sua mente.

Em suma, Peregrinação é um drama contundente que só funciona porque tem um grande diretor à sua frente. Nesse sentido, escreveu Scott Eyman, em “John Ford – A Filmografia Completa” (Editora Taschen, 2005):

“A história é digna de Griffith no seu melhor, e Ford dirige o elenco numa representação desprendida e naturalista que eleva o filme acima do melodrama”.

Após trabalhar em duas produções de estúdio – Asas Heróicas (1932) e Carne (1932) – com resultados medianos, Ford realiza um ótimo filme mesmo tendo às mãos poucos recursos e um elenco de desconhecidos.

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Ficha técnica:

Peregrinação | Pilgrimage | 1933 | EUA | 96 min | Direção: John Ford | Roteiro: Barry Conners, Philip Klein, Dudley Nichols, Henry Johnson, Basil Woon | Elenco: Henrietta Crosman, Heather Angel, Norman Foster, Lucille La Verne, Maurice Murphy, Marian Nixon, Jay Ward, Betty Blythe, Francis Ford.

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