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Piedade (filme)
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Piedade

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

O diretor Cláudio Assis retrata em Piedade a revelação de dissimulações. Em sua trama, uma empresa petroleira tenta um acordo de ressarcimento com os moradores de uma praia afetada pelas suas operações.

Aurélio (Matheus Nachtergaele), executivo da multinacional Petrogreen, conversa com a família de Dona Carminha (Fernanda Montenegro), para que aceitem a proposta de acordo oferecida pela empresa. Mas um dos filhos dela, Omar (Irandhir Santos), é contra o acordo. E ainda incita os demais moradores da praia a também recusarem a proposta. Então, Aurélio encontra um filho perdido de Dona Carminha, chamado Sandro (Cauã Reymond). E investe nele como o fator capaz de mudar a cabeça de Omar.

Personagens

Os personagens de Piedade possuem uma força narrativa imensa. A profundidade deles movimenta essa trama principal, que assim ganha dimensões além dessa estória. Nesse sentido, o Sandro de Cauã Reymond ganha a vida como proprietário de um cinema pornô com salas para prática sexual com desconhecidos. E seu filho Marlon (Gabriel Leone) é um rapaz militante de um grupo ativista contra a Petrogreen que propaga suas mensagens através de vídeos na internet e pichações na cidade.

Já o executivo da Petrogreen, Aurélio, interpretado por Matheus Nachtergaele, é talvez o maior dissimulador do filme. Ele esconde as reais intenções da petroleira por trás do acordo financeiramente atraente oferecido aos moradores. E oculta de todos que é gay. Por isso, transa com Sandro quando vai atrás dele para apresentar a proposta de acordo. Mas Sandro é descartável para Aurélio, tanto como parceiro sexual como na posição de herdeiro das terras que sua empresa quer comprar.

Mentiras

E a Dona Carminha de Fernanda Montenegro é vítima das mentiras do marido. Ele a engana em relação ao filho que ela teve e que foi roubado na maternidade. Esse evento traumático marcou-a por toda sua vida. E ela sempre teve a esperança de reencontrar a criança perdida. Quando a verdade aparece, sua existência não tem mais sentido.

O filho de Carminha, Omar, sempre defende a manutenção das terras na família. Afinal, elas representam tudo o que a mãe construiu desde que chegou a essa praia de Recife. Porém, quando descobre que o pai mentiu sobre o seu irmão roubado na maternidade, isso perde sua importâcia. Preservar as terras significa, agora, preservar uma mentira.

A conclusão de Piedade reforça essa falsa realidade que todos vivem. Uns por opção, outros ou por desconhecimento. Nesse sentido, a imagem do neto de Carminha na conclusão ilustra essa ideia. Ele está na sacada do apartamento recebido pelo acordo com a Petrogreen. Apesar de ele estar de frente para a praia, o que ele está olhando são as imagens artificiais dos seus óculos de VR (realidade virtual), presente dado pela petroleira.

A direção

Além de manter a coesão entre as imagens do filme e as propostas do roteiro, o diretor Cláudio Assis ainda se destaca pela sua habilidade estilística. Por exemplo, na sequência em que somos apresentados a Sandro e seu filho Marlon, ele coloca a câmera no alto. De lá, vemos as divisórias das paredes e os vários cubículos do cinema, onde o sexo voluptuoso rola solto em cada um deles. Enquanto os dois discutem no corredor, as duas mulheres no cubículo ao lado se sentem incomodadas e interrompem a transa. Logo depois, a mesma câmera do alto capta Fernanda Montenegro tomando uma ducha. Com isso, apresenta uma relação que só será revelada no final do filme.

Adicionalmente, o apuro técnico de Cláudio Assis permite também que ele filme uma longa sequência de diálogo na areia da praia entre dois personagens. A câmera filma a cena de dentro do mar, acompanhando o caminhar da dupla. Ou seja, uma cena difícil de ser captada e que pode ser apreciada sem nenhum defeito em Piedade.

Por fim, o alinhamento dessa técnica, com personagens fortes e o roteiro sobre o tema universal da verdade, torna Piedade um filme primoroso.


Piedade (filme)
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