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Poster do filme "Plano 75"
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Plano 75

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Plano 75 (Plan 75) não é vendido como uma ficção-científica, mas se enquadra nesse gênero. Afinal, trata de uma situação que não existe de fato. O filme supõe que, no Japão, o envelhecimento da população se tornou um problema grave, a ponto de gerar o ódio. A primeira cena mostra um atentado suicida de um rapaz que entra atirando nos idosos de uma casa de repouso. A propósito, uma cena muito bem filmada, pois usa o desfoque e câmera fixa que forçam o espectador a descobrir, aos poucos, o que está acontecendo.

Este atentado, e provavelmente outros eventos nutridos pelo etarismo, faz o governo decretar o tal Plano 75 do título. Essa medida tem o objetivo de reduzir a quantidade de idosos no país. Para isso, incentiva quem tem 75 anos de idade para cima a receber um suicídio assistido. Além de ser um programa gratuito, o participante ainda recebe um dinheiro. E, dependendo das condições que aceita morrer (em grupo ou individual), ainda pode passar uns dias num resort all-inclusive.

Essa história foi tema do segmento da diretora Chie Hayakawa na antologia Ju-nen: Ten Years Japan (2018). Aqui, ela o desenvolve no formato de seu primeiro longa-metragem. Habilmente, Hayakawa trabalha essa ideia como um futuro nefasto para o país. Para isso, injeta um inesperado humor que revela o absurdo dessa proposta. O citado resort, por exemplo, é um claro exagero. Até a própria estratégia de venda também, pois a decisão de morrer ganha ares de uma viagem de turismo.

Por outro lado, a dura realidade dos idosos no filme serve como alerta para o que pode ainda acontecer de verdade.

A história através dos protagonistas

Nesse sentido, a protagonista, de 75 anos, perde o emprego e não consegue se reempregar, por causa da idade. Então, faz bicos em subempregos, por exemplo, como sinalizadora de trânsito. Com o prédio onde mora prestes a ser demolido, ela tampouco consegue um novo local para morar, pois os proprietários exigem garantias exageradas para inquilinos idosos. Assim, sem outra saída, ela se inscreve no Plano 75.

Um outro protagonista é justamente o jovem vendedor que oferece o plano à essa senhora. No início, ele se mostra um empregado exemplar, mas, ao longo do filme, ele começa a enxergar além das aparências corporativas. Primeiro, quando descobre que um dos candidatos ao plano é o seu tio, a quem não vê há tempos. Até então, era fácil fazer uma venda impessoal para quem não conhece, mas ao se deparar com um parente, a coisa muda de figura. Além disso, ele faz uma descoberta sinistra, digna da revelação bombástica do filme A Última Esperança da Terra (The Omega Man, 1971). Ou seja, por trás desse plano social e econômico, há um interesse financeiro. Aliás, que soa ainda mais sinistro porque está relacionado à incineração em grupo dos idosos mortos, lembrando as atrocidades nazistas.

O outro protagonismo é de uma mãe filipina que tenta ganhar dinheiro para o tratamento da filha que está no país de origem. Trabalhar para o Plano 75 parece ser uma boa solução, pois, além de receber um bom salário, ela ainda pode ficar com os pertences pessoais dos mortos. Mas, na conclusão, ela enfrentará um autoquestionamento ético quando, após ajudar o protagonista vendedor a evitar que seu tio seja cremado, ela vê uma grande quantidade de dinheiro na carteira de um dos mortos.

Valorizar a vida

Por fim, o filme ainda traz outra personagem importante. É a atendente telefônica que conversa com os idosos aprovados no Plano 75, dando-lhes o conforto de ter alguém para ouvir suas histórias. Mas um encontro proibido entre ela e a protagonista provoca a empatia suficiente para que ela perceba que está agindo como se fosse uma cúmplice de um assassinato. É um outro bom momento do filme, quando ela olha para a câmera, comovida, após ouvir as normas da empresa, entre elas, a de evitar que os candidatos desistam do plano.

Enfim, Plano 75 é um filme surpreendente. A trama é chocante, mas ao invés de focar apenas nos momentos tristes da história, coloca também um humor inteligente que basta para captarmos a mensagem de valorização da vida.

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Ficha técnica:

Plano 75 | Plan 75 | 2022 | 105 min | Japão, França, Filipinas, Qatar | Direção e roteiro: Chie Hayakawa | Elenco: Chieko Baisho, Hayato Isomura, Yuumi Kawai, Taka Takao, Stefanie Arianne.

Distribuição: Sato Company.

Assista ao trailer aqui.

Essa crítica está também no nosso canal no Youtube.

Este filme está na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece entre 20 de outubro e 2 de novembro de 2022.

Onde assistir:
Plano 75 (filme)
Plano 75 (filme)
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