Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz já estava finalizado no primeiro semestre de 2018, quando participei de uma sessão de pesquisa com a exibição do filme. A distribuidora estava animada com a perspectiva de uma grande bilheteria, seguindo o sucesso, na época, de outros filmes com cunho religioso. Porém, no segundo semestre daquele ano estourou o escândalo das acusações sexuais contra o médium João de Deus. Com isso, quem ia querer assistir a um filme sobre outro médium? Então, só após quatro anos de espera, chega agora aos cinemas a cinebiografia de Zé Arigó, o médium brasileiro que alcançou fama internacional entre as décadas de 1950 e 1970.
O filme acompanha a vida de Zé Arigó (Danton Mello), desde que recebeu o dom de curar pessoas até se tornar famoso a ponto de atender filas intermináveis que se formavam à frente de seu consultório na pequena cidade de Congonhas (MG). De origem humilde, ele não possuía nenhum conhecimento sobre medicina. Porém, realizava intervenções cirúrgicas através do espírito de Dr. Fritz, um médico alemão falecido durante a Primeira Guerra Mundial. Como era de se esperar, foi uma figura polêmica, e recebeu duras críticas das pessoas céticas, das instituições médicas, e da Igreja Católica.
Padrão Globo
A produção caprichada, nas mãos do diretor de novelas e séries televisivas Gustavo Fernandez, torna Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz um filme com uma narrativa fácil de se acompanhar. Isso, porém, não afasta algumas cenas que passam perto do suspense e do terror, por causa dos cortes que Arigó realizava em alguns pacientes, utilizando apenas faca ou canivete. Mas, acima de tudo, a força dramática do enredo se concentra na perspectiva do próprio Arigó, que questiona sobre esse dom que recebeu sem pedir e muito menos estar preparado. Impedido de levar uma vida normal, o homem rural se questionava se era mesmo um dom ou uma maldição.
Arigó contou com o apoio de sua esposa Arlete (Juliana Paes), embora entrasse em atrito com ela porque ele não cobrava pelas sessões. E, portanto, deixava de prover as necessidades da família. Além disso, seu filho, que tinha dificuldades motoras em suas pernas, não entendia por que o pai não o curava.
Enfim, Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz é bem realizado. Tem o “padrão Globo” como se costuma dizer de produções com todos os recursos à disposição (cenários, locações, vestuário etc., importantes num filme de época como esse), embora não seja da Globo.
Os espectadores que acreditam na mediunidade sairão satisfeitos com o resultado que verão na tela, pois o enredo não desmente o fenômeno Arigó. Já os demais talvez permaneçam apáticos, diante de um relato biográfico que se aproxima de um documentário. Ou seja, pouco ficcional, restringindo-se aos fatos históricos, exceto pelos citados momentos de revolta do protagonista.
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Ficha técnica:
Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz | 2022 | Brasil | 1h48 | Direção: Gustavo Fernandez | Roteiro: Jaqueline Vargas | Elenco: Danton Mello, Juliana Paes, Marcos Caruso, Alexandre Borges, Marco Ricca, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli, James Faulkner.
Distribuição: Imagem Filmes.