Um dos realizadores de maior prestígio dentro do terror brasileiro, Rodrigo Aragão lança seu oitavo longa-metragem, Prédio Vazio. O filme se passa em Guarapari, cidade litorânea no Espírito Santo onde o diretor nasceu. De frente para a Praia do Morro, fica o Edifício Magdalena, um antigo prédio que só fica ocupado durante a alta temporada. É ali o centro desta trama sombria.
As primeiras cenas de Prédio Vazio tentam despistar o direcionamento do filme. Uma antiga música dos tempos do radinho de pilha acompanha um casal de idosos na bela praia. Não é uma situação muito feliz, pois a saúde do senhor se encontra gravemente debilitada. Parece mais um retrato de um drama realista. Aos poucos, o cinema fantástico começa a dar suas caras. Primeiro, no céu noturno estilizado na varanda do apartamento desse casal. Depois, já na pegada do horror, quando o velho vê alguma criatura à espreita.
Após essa introdução, surgem os personagens principais do filme. Luna, uma jovem que desconfia que algo grave aconteceu com sua mãe, que tinha alugado um apartamento no Edifício Magdalena. A zeladora do prédio, interpretada por Gilda Nomacce, atriz cult do terror nacional. E o próprio prédio, cuja fachada decadente, com musgos cobrindo os seus azulejos ultrapassados, se torna ainda mais tenebrosa porque a câmera a filma de baixo para cima. Mas, o mais assustador está lá dentro.
Visual tenebroso
Alguns detalhes indicam a presença do terror no Edifício Magdalena. Por exemplo, quando a mãe chama o elevador para ir ao quinto andar, ela aperta o botão para descer, apesar de ela estar no térreo, dando a entender que ela se encaminha para o inferno. Já a zeladora, em suas primeiras aparições, está sempre mexendo em objetos religiosos. Sem contar a autopropaganda na camiseta de Luna – do filme O Cemitério das Almas Perdidas, uma brincadeira de Aragão com este seu filme.
A trama em si não apresenta grandes surpresas para os fãs do gênero. No geral, mantém a coerência, exceto quando afirma que as almas que moram no edifício precisam ser alimentadas, pois parecem que elas permanecem ali por conta da sede de vingança.
Na forma, chama a atenção o uso constante de fade outs (o escurecimento da tela) ao final de cada cena, efeito que cria a sensação de que o filme é composto por vários pesadelos. Mas o impacto maior, como costuma acontecer no cinema de Rodrigo Aragão, um especialista em maquiagem e efeitos especiais, vem das criaturas do além que habitam o prédio. Todas elas muito assustadoras, conduzem o espectador a uma experiência similar a um passeio por uma casa do terror de parque de diversões, ainda mais por aparecerem em cenários horripilantes, como o terrível poço do elevador.
Prédio Vazio, no entanto, poderia assustar mais empregando jump scares e construindo o suspense antes das aparições. Além disso, faria diferença aproveitar a ambientação local para criar uma conexão mais próxima com o sobrenatural, algo que José Mojica Marins costumava trabalhar com eficiência.
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Ficha técnica:
Prédio Vazio | 2025 | Brasil | Direção: Rodrigo Aragão | Roteiro: Rodrigo Aragão | Elenco: Gilda Nomacce, Rejane Arruda, Lorena Corrêa, Caio Macedo, Telma Lopes, Walter Filho, Leonardo Magalhães.
Distribuição: Retrato Filmes.