O documentário Proibido Nascer no Paraíso traz à tona a política de não se realizar partos em Fernando de Noronha, vigente desde 2004. Segundo as normas, as moradoras gestantes do arquipélago turístico devem viajar até Recife para dar à luz os seus filhos. O filme mostra que elas ficam várias semanas em um hotel na capital pernambucana, antes do parto, e só retornam um mês depois do nascimento do bebê. Uma rotina física e mentalmente extenuante, já que Noronha se encontra há 360 km do ponto mais próximo do continente, e a 550 km de Recife, o que equivale a uma viagem de uma hora de avião.
A narrativa se concentra em três gestantes noronhenses: Ione, Harlene e Babalu. As duas primeiras completam esse processo, da saída da ilha até o retorno com o bebê. Enquanto isso, Babalu resiste o quanto pode a se transferir. Apesar de sua luta por tentar realizar o parto em Fernando de Noronha, o filme conclui com ela, triste e inconformada, se despedindo para viajar para Recife. Tal momento é o mais dramático e comovente de Proibido Nascer no Paraíso.
Direção de Joana Nin
Este é o terceiro documentário dirigido por Joana Nin. A cineasta conduz a estória através de algumas intervenções de uma narradora, que fornece as informações sobre o tema abordado. Nesse texto, destaca-se a forma como ele conecta a natureza exuberante do local com o tema da gestação. Ou seja, através da exploração de um termo, “swell”, a narração faz uma transição suave entre uma exposição de dados com a polêmica que o filme tratará.
Da mesma forma, outro recurso interessante em Proibido Nascer no Paraíso é o uso de imagens de um vídeo do governo realizado em 1972. Assim, além de evidenciar o antigo objetivo de se explorar o local como uma atração turística, ao justapor trechos de antes e de agora do único hospital da região, fica evidente que a infraestrutura para os moradores locais não acompanhou o sucesso econômico.
Aliás, o documentário ainda abre espaço para expor a história de Fernando de Noronha. Para isso, busca a solução lúdica de filmar a explanação de uma professora a crianças. Dessa forma, o espectador entende rapidamente como o arquipélago já foi um presídio e uma base militar, antes de ser explorada turisticamente.
Inconformismo
Além disso, o longa timidamente questiona essa exploração da natureza como atração turística. E, ainda contrapõe esse fato aos direitos dos moradores locais, cujo maior exemplo é tolher os direitos das gestantes de terem seus filhos na ilha, com a consequente incerteza sobre a aprovação do pedido de residência desses noronhenses nascidos em Recife. Nesse sentido, o filme coloca na tela turistas bebendo champanhe, no alto de um morro, em frente a um dos pontos mais conhecidos de Fernando de Noronha, enquanto outros tiram fotos e filmam com seus celulares. Em seguida, vemos uma das personagens se banhando com seu bebê recém-nascido num lago natural da praia, em frente ao mesmo ponto turístico, com resultados poéticos. Assim, as imagens provocam a reflexão sobre quem realmente é merecedor dos privilégios naturais do local.
Dessa forma, fica evidente o inconformismo da cineasta com a situação das gestantes de Fernando de Noronha. Nesse aspecto, Proibido Nascer no Paraíso merecia ser mais incisivo. Como está estruturado, ou seja, acompanhando o processo de três gestantes, a dramaticidade se dilui. Principalmente, quando capta as rotinas no hotel, ou após o parto, de duas das personagens. Nesse ponto, fica a impressão de que o assunto não sustenta um longa-metragem, e o documentário se torna cansativo.
Por outro lado, quando a abordagem retorna a Babalu, a dona da lanchonete que não aceita ter seu bebê fora de Fernando de Noronha, o filme ganha intensidade. De fato, é a atitude dela que melhor parece espelhar a motivação para se realizar o filme. Não é à toa que o clímax dramático se concentra em sua saída forçada da ilha. Se Proibido Nascer no Paraíso tivesse se concentrado nessa personagem, seria um filme muito mais poderoso.
___________________________________________
Ficha técnica:
Proibido Nascer no Paraíso (2021) Brasil. 78 min. Direção: Joana Nin. Distribuição: Boulevard Filmes.