Poster do filme "Queer"
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Queer

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Queer parece uma mistura de Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e Suspíria: A Dança do Medo (2018), dois filmes anteriores do seu diretor Luca Guadagnino. Do primeiro, vem o tema LGBTQIA+, presente no livro de William S. Burroughs que o roteiro de Justin Kuritzkes adapta para o cinema. Do segundo, o visual estranho, o flerte com o body horror, que também faz parte da obra do escritor.

Em Queer, Daniel Craig interpreta William Lee, um escritor decadente numa pequena comunidade americana na Cidade do México nos anos 1950. Passa mais tempo procurando parceiros sexuais do que escrevendo. Nessa busca, fica obcecado com um jovem ex-soldado americano chamado Eugene Allerton (Drew Starkey), com quem sente que pode ter um relacionamento mais profundo. Mas, seu vício em álcool e heroína se intensifica durante o enredo – o que fica simbolizado pelo seu traje de linho, cada vez mais surrado. Os dois embarcam em uma viagem para as florestas do Equador, atrás de uma planta chamada yagi, que supostamente permite o poder da telepatia.

O onírico de Lynch

Neste filme, Luca Guadagnino caminha na contramão da busca pela autenticidade. Os cenários externos não escondem que são filmados dentro de um estúdio. Muitas cenas acontecem durante o crepúsculo, com uma luz laranja-avermelhada intensa demais para ser natural. A decoração beira o surrealismo, como o hotel com cores fortíssimas, especialmente o verde e o vermelho. Lembra muito o cinema de David Lynch, até no enquadramento dentro do quarto, em diagonal, com um personagem em primeiro plano num dos cantos da tela e o outro ao fundo no lado oposto.

A referência lynchiana combina com o tom onírico de Queer, resultante do constante estado entorpecido do protagonista. Assim, sequências de pesadelo, ou da recorrente materialização dele acariciando Eugene (seus braços em sobreposição transparente), revelam a confusão mental de Lee, que gradativamente perde a noção do que é real e o que é fruto das suas alucinações. A sequência final enfatiza esse sentimento, pois quando ele retorna ao local onde morou, tudo parece vazio.

Além disso, Guadagnino também recebe influências de David Cronenberg, como já acontecera em Suspíria. É difícil ficar indiferente ao body horror da sequência final. O coração expelido pela boca e os amantes se acariciando por dentro da pele provocam aquela sensação de estranheza tão forte na obra de Cronenberg.

A visão entorpecida

Por fim, acrescenta ainda mais a opção pela não autenticidade a inclusão de canções que foram criadas após a época em que se passa a história. Entre elas, “Come As You Are”, do Nirvana, “All Apologies”, do Nirvana em interpretação de Sinéad O’Connor, e “Vaster Than Empires”, canção inspirada por versos de Burroughs e gravada especialmente para o filme por Caetano Veloso, Trent Reznor e Atticus Ross.

Através de elementos marcados pela fantasia, pelo irreal, pelo absurdo, Queer consegue transmitir a visão entorpecida de seu protagonista. Dessa forma, se aproxima também da literatura de William S. Burroughs. Contudo, ao se concentrar nesses efeitos, se afasta de um aprofundamento sobre os motivos que o levaram a esse comportamento. Pincela a questão da identidade sexual de Eugene, que Lee descobre através da telepatia, mas não vai além disso. Esse lado mais hermético permaneceu fechado.

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Ficha técnica:

Queer | 2024 | 136 min. | Itália, EUA | Direção: Luca Guadagnino | Roteiro: Justin Kuritzkes | Elenco: Daniel Craig, Drew Starkey, Jason Schwartzman, Daan de Wit, Henrique Zaga, Colin Bates, Simon Rizzoni,

Distribuição: Paris Filmes.

Trailer:

Onde assistir:
Cena do filme "Queer"
Cena do filme "Queer"
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