Raiva escancara a desigualdade social predominante no sul de Portugal em 1950.
E esse cruel desequilíbrio desencadeia a violenta reação do protagonista Palma, cujo desfecho surge no prólogo de Raiva. Assim, após a apresentação do título, o filme volta no tempo para contar a história em ordem cronológica.
Segundo a trama, Palma perde o emprego e seu pedaço de terra para o latifundiário Elias Sobral. A fim de evitar que sua família morra de fome, Palma começa a transportar contrabando para a Espanha. Porém, a filha começa a agitar protestos contra Sobral e este se vinga pedindo ao sargento que coloque Palma na prisão.
Em seu terceiro longa ficcional, o diretor paulista Sérgio Tréfaut imprime um estilo fluído. Nesse sentido, a câmera pouco se movimenta, e o faz suavemente quando necessário. Mas é a fotografia o aspecto mais impressionante do filme. De fato, o experiente diretor de fotografia Acácio de Almeida, com mais de 140 créditos no currículo, filma Raiva em preto e branco, apresentando enquadramentos que fazem de cada plano uma pintura.
Acima de tudo, esse esmero fotográfico não soa artificial, o que poderia atrapalhar o tema realista da história. E o deslumbre visual contrasta com as duras condições da população pobre simbolizada pelo protagonista. Mesmo sendo visualmente belíssimo, a mise-en-scène de Raiva revela a escassez de recursos da família, o que propulsiona os atos desesperados diante de tanta injustiça.
Em suma, Raiva é belíssimo e triste ao mesmo tempo.
Ficha técnica:
Raiva (Raiva, 2018) Portugal/França/Brasil. 84 min. Dir/Rot: Sérgio Tréfaut. Elenco: Sergi López, Catarina Wallenstein, Rogério Samora, Leonor Silveira, Isabel Ruth, Herman José, Luís Miguel Cintra, Adriano Luz.
Trailer:
Assista também: entrevista com Sérgio Tréfaut