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Ran

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Talvez a última obra-prima indiscutível de Akira Kurosawa, Ran se inspira em “Rei Lear”, de William Shakespeare. O diretor ainda rodaria mais três filmes, mas aqui ele consolida definitivamente sua arte de contar histórias. Valorizando principalmente o visual, ele torna Shakespeare facilmente compreensível, e claramente identificáveis os guerreiros de dois ou três batalhões que se enfrentam em confrontos épicos (o que a maioria dos cineastas não consegue fazer). E não é só isso, nas batalhas, a estratégia militar também fica evidente – com isso, os soldados não parecem correr a esmo, e entendemos de onde vêm e para onde vão os tiros (no caso, de armas de fogo e arco e flecha).

Sinopse

Nesse enredo shakespeareano, o impiedoso e cruel daimio (senhor feudal no Japão Medieval) Hidetora Ichimonji decide, aos 70 anos, levar uma vida mais pacífica. Por isso, elege como sucessor seu filho mais velho, Taro. O filho do meio, Jiro, concorda com a decisão, e ambos ganham um castelo e um exército. O mais novo, Saburo, acusa os irmãos de bajuladores, e avisa ao pai que o reino, conquistado na base da violência, será palco de mais guerras com essa divisão. Irritado, o pai bane Saburo que, então, se une a outro clã.

Influenciado pela sua esposa Kaede, Taro primeiramente retira do seu pai os títulos de nobreza que conquistou. Depois, esvazia a aldeia que garantiria o sustento de Hidetora e seu pequeno exército. Dessa forma, Kaede vai costurando sua almejada vingança contra o homem que roubou e matou a sua família. Seu diabólico plano envolve ainda colocar Taro contra Jiro, a quem domina também. Restará a Hidetora, que enlouquece diante da traição dos filhos mais velhos, pedir ajuda a Saburo, aquele a quem baniu, mas que era o único que foi sincero ao prever que esse domínio construído com sangue jamais permitiria uma aposentadoria pacífica. Prova viva disso é Taro, integrada à força ao clã, mas que sentia ódio de todos. Hidetora descobre que sua decisão levou seu domínio ao caos (tradução do título original).

Sentimentos na guerra

Essa breve sinopse ignora todos os detalhes do enredo, pois não é o objetivo desta crítica relatar a história do filme. Afinal, o roteiro é riquíssimo – e poderia ser complexo, se não fosse por Kurosawa, que o relata de maneira muito fluída. Vale, entre outros elementos, apontar que Hidetora não é um coitadinho, não é meramente uma vítima que sofre com a atitude dos filhos ambiciosos. Ele foi um senhor feudal vigoroso, que conquistou outras terras na base da violência. Assim, sua loucura se origina não só da decepção com Taro e Jiro, mas da constatação de que ele próprio construiu esse cenário de maldade, onde a traição e a crueldade reinam sobre os sentimentos mais nobres.

A primeira batalha do filme, que acontece no terceiro castelo, que seria destinado a Saburo, acentua esse drama profundo em detrimento da ação feita apenas para entreter. Para isso, Kurosawa utiliza somente a trilha musical, suprimindo os sons na maior parte dessa cena. Dessa forma, a emoção (em tom de tristeza) predomina, reverberando o que sente Hidetora. Incapaz de se suicidar porque não tem uma espada, ele sai do castelo em passos lentos, caminhando no meio dos batalhões que agora são seus inimigos, e antes eram seus súditos.

Batalhas grandiosas

As cores identificam os filhos e seus batalhões. Já na reunião no início do filme, quando Hidetora anuncia sua aposentadoria e a divisão do seu domínio, cada herdeiro veste um quimono com cor específica. Assim, o amarelo, o azul, e o vermelho identificam visivelmente os batalhões quando entram em combate. Kurosawa, dessa forma, evita a dificuldade que o espectador sofreria em identificar a qual exército cada soldado pertence, erro muito comum em filmes de guerra. Além das cores, os planos pensam também em definir de pronto quem está atacando quem, ao mesmo tempo em que constroem um momento de alta adrenalina. Impossível não elogiar a profundidade de campo, em especial na última batalha, quando os guerreiros aliados surgem no topo das montanhas, bem distantes, mas visíveis.

Quando pensamos em Ran, nos lembramos dessas batalhas grandiosas, e logo o elogiamos como um espetáculo visual. Mas, o filme também funciona como uma das mais acessíveis, sem apelar para o reducionismo, adaptações de uma obra de Shakespeare.

Ficha técnica:

Ran | 1985 | 160 min. | Japão, França | Direção: Akira Kurosawa | Roteiro: Akira Kurosawa, Hideo Oguni, Masato Ide | Elenco: Tatsuya Nakadai, Akira Terao, Jinpachi Nezu, Daisuke Ryo, Mieko Harada, Yoshiko Miyazaki, Hisahi Igawa, Pita, Masayuki Yui.

Onde assistir:
Tatsuya Nakadai em "Ran"
Tatsuya Nakadai em "Ran"
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