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Poster do filme "Rapto"
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Rapto

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Rapto (Le Ravissement) trata um tema adulto com acertado equilíbrio entre profundidade e leveza. Seu maior diferencial está no formato narrativo, um processo de reavaliação pessoal embalado na tradicional narração em off.

Uma voz masculina conduz a história de maneira incisiva. Parece que o filme é uma adaptação de uma obra literária, porque as imagens ilustram o que está sendo dito. Mas, isso marca acentuadamente apenas os primeiros momentos, depois as cenas ganham um tom menos carregado, a partir do instante em que a voz se identifica como Milos (Alexis Manenti), um motorista de ônibus por quem a protagonista Lydia (Hafsia Herzi) se apaixona na noite em que se conhecem e fazem sexo.

Milos já apresentara antes a personagem Lydia. Uma parteira que trabalha num hospital e que acaba de romper com o namorado que a traiu. Sem uma família, na vida dela, quem tem mais importância é sua melhor amiga Salomé (Nina Meurisse), casada e que logo em seguida fica grávida. A própria Lydia realiza o parto, perigosamente complicado, mas tudo acaba bem.

Não faz sentido esconder aqui o crime que Lydia comete. Afinal, está estampado no título do filme. A relativa leveza com que esse tema pesado é tratado consiste na abertura e fechamento desse momento obscuro da vida de Lydia com um efeito de transição em fade to black. O mergulho nesse túnel de apagão psicótico se inicia com um duplo gatilho quase simultâneo: a alegria da melhor amiga ao descobrir que está grávida, e o fora que Lydia leva do homem com quem transou após romper com o namorado. A dura realidade da impunidade fecha com outro fade to black essa fase de fantasia e transtorno.

Um exercício de compreensão

Nesse processo em que Milos reavalia Lydia percorrendo o que ele próprio vivenciou mais os relatos que vieram à tona no julgamento, ele se esforça para se colocar no lugar dela e compreendê-la. Como ele próprio afirma, não é uma análise psicológica, nem jurídica. O filme, que é um flashback conduzido por Milos, revela que Lydia passava por um momento de enorme fragilidade. Termina um relacionamento de três anos sendo traída, sai com um homem que não quer nada além de uma noite de sexo, e sua melhor amiga está numa situação de felicidade que contrasta com a sua de solidão.

Sem precisar escancarar com análises expressas, Rapto deixa o espectador perceber a protagonista direcionando sua carência em direção a um amor enorme pelo bebê de Salomé. Alguns fatores colaboram nessa trajetória. Um deles, a depressão pós-parto da amiga, que, por isso, precisa da ajuda de Lydia. Daí decorre o convívio cada vez mais intenso entre ela e a recém-nascida. Além disso, a bebê ganha o nome que Lydia sugere, Esmée. Logo, a frágil Lydia acaba se apegando exageradamente à criança e sua mente confusa não distingue os limites do que é certo e errado.

Estreante na direção e no roteiro de longas, a cineasta Iris Kaltenbäck imprime em Rapto um tom majoritariamente sombrio. Mas, não no sentido de transformar a história em um thriller. Não há suspense, somente o drama com fundo psicológico. E, por fim, uma gota de esperança, que brota do exercício de Milos para entender Lydia e poder amá-la.

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Ficha técnica:

Rapto | Le Ravissement | 2023 | França | 97 min | Direção: Iris Kaltenbäck | Roteiro: Iris Kaltenbäck | Elenco: Hafsia Herzi, Alexis Manenti, Nina Meurisse, Younès Boucif.

Distribuição: Imovision.

Estreia dia 13 de junho de 2024 nos cinemas.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Cena do filme "Rapto"
Cena do filme "Rapto"
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