Real Beleza é um drama romântico do diretor gaúcho Jorge Furtado. O cineasta construiu carreira sólida no cinema e na televisão depois do revolucionário documentário Ilha das Flores (1989), que praticamente todos os brasileiros já assistiram.
Em Real Beleza, Furtado conta a estória de João (Vladimir Brichta), um fotógrafo famoso que busca em diversas cidades uma nova modelo para uma campanha publicitária. Em uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, no meio de uma seleção com várias candidatas belíssimas de 11 a 16 anos, ele se encanta com Maria (Vitória Strada). Porém, para contratá-la, ele precisa da autorização dos pais, porque ela é menor de idade. A mãe, Anita (Adriana Esteves) dá a anuência, porém o pai, Pedro (Francisco Cuoco), é radicalmente contra.
Então, João viaja para a isolada casa de Maria, onde se envolve romanticamente com Anita, que está sozinha no local. Ao conhecer Pedro, um homem com idade avançada, em processo avançado de cegueira e com saúde debilitada, o fotógrafo percebe que está diante de uma personalidade intrigante.
Direção
As imagens do filme foram capturadas com uma câmera digital (Sony FS-7000), perceptível principalmente nas cenas nos campos. Essa opção cria um elo harmônico com a estória, pois o fotógrafo trabalha com uma Canon EOS 5D. Porém, a nitidez da fotografia digital do filme acaba evidenciando um certo artificialismo no cenário da casa da família de Maria. Por um lado, há uma biblioteca enorme, que parece autêntica porque não está toda organizada. Os livros estão em diferentes posições, como acontece com quem manuseia constantemente os títulos. Porém, toda a casa parece limpa demais, sem o acúmulo de pó inevitável numa casa afastada no campo. E vale a pena mencionar isso porque os objetos de cena, os livros em especial, foram cuidadosamente escolhidos. Aliás, como se pode deduzir pelas obras que dialogam com a trama da estória.
E o personagem principal, João, não é o mais interessante de Real Beleza. Tanto Anita como Pedro possuem uma complexidade rara. Anita ama Pedro, mas este já está envelhecido. O desejo sexual por ele já se esvaiu, e por isso se oferece facilmente ao fotógrafo, sem desconfiar que uma paixão mais forte poderia nascer ali. Mesmo assim, ainda que seu marido a deixe partir com o forasteiro, ela prefere ficar ao lado de Pedro em seus últimos anos de vida.
Aliás, Pedro é ainda mais fascinante. Impossibilitado de apreciar visualmente as duas paixões de sua vida – a leitura e Anita – Pedro se mantém firme e continua uma figura imponente. Ele adquiriu nos livros uma sapiência que o salva das amarguras de sentir pena de si mesmo. Por fim, a decisão de deixar Maria tentar a carreira de modelo e de permitir que Anita viva um novo amor comprovam a beleza de sua visão do mundo.
