O filme espanhol Redenção é uma boa indicação para se compreender os efeitos das violentas ações do ETA, a organização separatista basca que recorreu a ataques armados e ao terrorismo durante 51 anos.
O 12º longa dirigido pela também atriz Icíar Bollaín arrisca uma narrativa visual em sua primeira metade. Nessa pegada, força o espectador a deduzir o que está acontecendo em cena. Mas as tentativas de criar uma surpresa com a identificação do carro dos terroristas em fuga pelo rádio da polícia, e de transmitir o impacto do assassinato de Juan María Jaúregui, um político e ex-membro do ETA, em sua esposa Maixabel Lasa, tornam a trama confusa e menos dramática. Uma comunicação mais direta, nesses casos, poderia ser mais eficiente para provocar a emoção que esses momentos pedem.
E não é a reação exagerada da filha do assassinado, María Jáuregui, que remedia essa carência, ainda mais quando a cena revela que ela já sentia que o risco de matarem o seu pai era altíssimo. Reação igualmente excessiva surge quando ela descobre que sua mãe entrou para a lista de jurados de morte do ETA. A conclusão pode ser que essa atriz que interpreta a filha é muito fraca ou ela foi mal dirigida.
Acareação
O enredo alterna entre as vítimas do ETA, em especial a protagonista Maixabel e a sua filha, e os algozes da morte de Juan María Jaúregui. Na verdade, somente dois dos três assassinos, pois um deles sumiu do mapa, enquanto Ibon e Luis são enviados para uma prisão para ex-membros do ETA que se arrependeram das ações violentas que cometeram em nome de um ideal. Os dois lados estão sofrendo – e um programa oficial tenta aliviar a dor, especialmente das vítimas, promovendo encontros entre a vítima e o agente que causou a morte. Esse é o mote principal do filme.
O filme entra, então, numa pegada menos visual e mais apoiada em diálogos. Ibon e Maixabel são os personagens principais. Mas, o filme desloca a atenção deles, que vinham à frente na narrativa, e mostra o comparsa do crime Luis como o primeiro a aceitar o encontro com Maixabel. Com isso, novamente a diretora Icíar Bollaín esvazia o potencial dramático da acareação entre Ibon e a protagonista. Um roteiro mais enxuto poderia juntar essa reunião, que consiste no clímax do filme, em uma só cena de alto impacto.
Em Redenção, Ibon reluta em participar desse programa. Mas fica martelando o arrependimento que tanto o atormenta. Em suas licenças, fica com a mãe que o condena por sua adesão aos ataques armados. Certa noite, percorre todos os lugares da cidade onde participou de um assassinato. O exemplo de Luis o incentiva a buscar o programa.
Conflito interno
A jornada de Ibon em busca de redenção implica num conflito interno imenso, tão forte quanto o de Maixabel em encarar o assassino de seu marido. O filme ensina que esses esforços são necessários para que ideias opostas possam coexistir sem gerar violência. Para comunicar esse recado, Redenção é mais assertivo quando recorre aos diálogos, ainda que extensos, do que nas tentativas visuais. Mas nos dois casos, a carga dramática fica em segundo plano.
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Ficha técnica:
Redenção | Maixabel | 2021 | 115 min | Espanha | Direção: Icíar Bollaín | Roteiro: Isa Campo, Icíar Bollaín | Elenco: Blanca Portillo, Luis Tosar, María Cerezuela, Urko Olazabal, Tamara Canosa, María Jesús Hoyos, Arantxa Aranguren.
Distribuição: Pandora Filmes.