O filme Retorno é o terceiro da coleção “Crimes of the South”. Os dois primeiros – Desaparecida (Perdida, 2018) e Presságio (La Corazonada, 2020) – se baseavam em livros de Florencia Etcheves. Agora, ela é co-roteirista ao lado do diretor Alejandro Montiel e de Mili Roque Pitt. A liberdade que esses três autores desfrutaram se tornou uma armadilha. A trama atira para todos os lados, com a intenção de incluir elementos que agradem ao seu público.
Desta vez, a protagonista Manuela ‘Pipa’ Pelari (Luisana Lopilato) não é mais uma policial urbana. Largou o distintivo e mudou-se com seu filho adolescente para a cidadezinha de La Quebrada, no norte da Argentina, onde vive sua tia Alicia (Paulina García). Quando uma jovem kolla é encontrada carbonizada, Pipa resolve investigar por conta própria. Dessa forma, poderá inocentar um morador injustamente acusado, o que agradará sua tia, defensora dos povos indígenas nativos. Aliás, essa bandeira é um dos elementos que o filme usa (desajeitadamente) para agradar a parcela engajada da audiência.
O cenário desértico, a presença dos nativos, a trilha musical, o poder dos latifundiários, um herói justiceiro… enfim, são todas características comuns aos faroestes. Mas o filme traz também ingredientes de mistérios policiais, gênero predominante dos primeiros dois longas da coleção. Assim, Retorno tenta inserir violência, policiais corruptos, assassinatos, e até incesto e drogas, além de um pouco de whodunit (que era mais acentuado nas histórias anteriores). Na parte final, a trilha musical se torna eletrônica, no estilo John Carpenter, numa tentativa de surfar na onda nostálgica dos anos 80.
Pipa mais fraca
Já o trauma pelo destino trágico de Cornelia, melhor amiga de Pipa, fica cada vez mais atenuado a cada novo filme. Inexplicavelmente, pois essa angústia abalava profundamente a personagem em sua primeira aventura. Aliás, em Retorno a protagonista está pouco cativante, aspecto que melhorara em Presságio. Desta vez, o enredo tentar mostrar uma outra faceta da heroína, mais preocupada com a família (a tia e o filho). Mas, não convence e ainda deixa sua força como policial enfraquecida.
No entanto, o que mais atrapalha é a trama mal amarrada. Já não era o forte dos filmes anteriores, que eram baseados em livros, mas aqui os defeitos parecem mais evidentes. Por exemplo, só na parte final descobrimos que aconteceu outro assassinato na história. E, nos perguntamos: o que aconteceu com esse corpo? Para piorar, esse segredo obscurece outro, que deveria chocar, que é o do incesto. E, sem contar ainda com aqueles detalhes que não fazem sentido. Nesse sentido, podemos mencionar o fato de o policial amigo não acompanhar o filho que tenta salvar a mãe Pipa. Na verdade, o roteiro força a barra para que o menino tenha um papel ativo nessa cena. Por fim, esse filme ainda possui um ritmo lento, arrastado.
Enfim, Retorno só reforça a presunção de que essa tal coleção “Crimes of the South” não passa de um enorme fiasco.
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Ficha técnica:
Retorno | Pipa | 2022 | 1h55 | Argentina | Direção: Alejandro Montiel | Roteiro: Florencia Etcheves, Alejandro Montiel, Mili Roque Pitt | Elenco: Luisana Lopilato, Inés Estévez, Paulina García, Malena Narvay, Mauricio Paniagua, Victor López, Aquiles Casabella.
Distribuição: Netflix.
