A atriz Rita Carelli estrela Abaixo a Gravidade, que entra em cartaz amanhã nos cinemas brasileiros.
O terceiro longa-metragem do diretor Edgard Navarro, que também escreveu o roteiro, conta a estória do velho curandeiro Bené, que vive numa pequena cidade na Chapada Diamantina. Bené conhece e se apaixona por Letícia, grávida, e a segue até Salvador na Bahia, onde fica interessado também por Malu, a irmã bipolar de Letícia. Enquanto isso, um asteroide se aproxima e causará a perda da gravidade na Terra.
Rita Carelli interpreta as gêmeas Letícia e Malu, atuando ao lado de Everaldo Pontes (Bené), Bertrand Duarte (Maisselfe), Ramon Vane (Galego) e Fabio Vidal (Mierre).
A Fênix, distribuidora de Abaixo a Gravidade, conversou com a atriz, premiada no Cine PE pelo longa Permanência, e, por sua atuação em Au Revoir, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Amazonas Film Festival, no Festival de Cinema dos Sertões e no Festival Primeiro Plano, além do troféu Merlin Azul, por sua atuação em Décimo Segundono Vitória Cine Vídeo.
Entrevista
Trazemos abaixo trechos da entrevista da Fênix Distribuidora com Rita Carelli:
Rita, o que foi que a atraiu para aceitar o convite para fazer Abaixo a Gravidade?
Em primeiro lugar quero dizer que tenho uma grande admiração pelo Edgard Navarro (diretor e roteirista do filme). Uma figura superimportante para o cinema nacional, uma pessoa que tem uma verve, ele tem estilo de fazer cinema muito interessante. Então, um convite dele já é um atrativo.
Tive uma pequeníssima participação no filme dele chamado O Homem que Não Dormia, então, eu conhecia os atores de perto. A minha tia, a Chica Carelli, trabalhou no Eu Me Lembro, que eu acompanhei também.
E quando eu recebi o roteiro de Abaixo a Gravidade, eu fiquei muito contente. Vi que ali era uma retomada de temas essenciais na obra do Edgard. Isso porque, se a gente for ver, esse mote, ‘abaixo a gravidade’, está presente desde o começo da obra dele. Então, o roteiro me atraiu duplamente. Logo notei que se tratava de projeto de virada, a retomada da verve dele, de natureza anárquica, catártica. E depois, especificamente, o trabalho do personagem, também um desafio supergrande. É um pouco um fetiche de todo ator fazer gêmeos.
Você teve alguma preparação especial para fazer as personagens?
Olha, a gente teve um período de ensaios em Salvador. Cada um também trabalhou por sua conta. Enfim, eu fiquei pesquisando um bom tempo a questão da bipolaridade, como os remédios afetavam as pessoas, como eu podia construir esses dois personagens.
No processo dos testes, Edgard me convidou diretamente para que eu gravasse um pequeno monólogo. Me sugeriu uma cena para eu mandar para ele. Então, eu, no meio disso tudo, já procurava esboçar um pouco das personagens. Já ali eu procurava esboçar alguma coisa.
Outra coisa foi o período de ensaios com ele, com Everaldo Pontes em Salvador. Sabe, Edgard é um cara que conhece muito os atores, é ator também. Ele sabe muito o que quer dos atores. A gente mergulhou nisso juntos.
Letícia e Malu são duas pessoas, mas como se fossem uma. São gêmeas. Fale um pouco sobre essas personagens.
Eu tentei preparar as personagens como se fossem duas pessoas diferentes mesmo. Mas, claro, tem essa coisa, a mesma imagem, a mesma atriz, isso carrega uma força também. Eu trabalhei um pouco talvez com o positivo e o negativo; a luz e a sombra, que é também um dos grandes temas do filme. O personagem de Bené, que está ali na Chapada, vive numa serenidade, uma simbiose com aquela comunidade, numa busca espiritual, e encara o caos urbano. Eu procurei refletir a estrutura do roteiro na minha maneira de proceder com essas duas personagens.
Você pôde sentir essa diferença em relação às locações? Diferença entre a personalidade das duas personagens, sendo Letícia mais Capão, a outra mais Salvador, urbana, algo a ver com o corre-corre do dia a dia?
Totalmente. É natural a gente ser afetada por esses ambientes tão diferentes. De repente, tem lá uma equipe imersa no Capão. Depois, as noites de preparação, andando lá no Dois de Julho. E nesse clima tem o Ramon, que tinha essa verve do poeta e se comunicava com os poetas locais, assim ‘meio marginais’. É como se a gente estabelecesse um catalisador ali, criando uma simbiose com esses ambientes. Portanto, com certeza, isso altera nossa frequência interna. Contamina, no bom sentido.
Esse cinema feito por Navarro é o que normalmente atrai você? É o que você gostaria de continuar fazendo, um cinema mais transgressor?
Ah, sem dúvida. É legal circular por muitos espaços, fazer diferentes tipos de filme. Mas eu tenho uma tendência, sim, é o que eu tenho mais feito, um cinema mais autoral, mesmo sabendo que o cinema autoral tem muitas vozes diferentes.
Sim, me sinto à vontade em participar de projetos que são muito importantes para quem está realizando. Projetos esses que usam da potência dos artistas que estão em volta para produzir alguma coisa. Você não está simplesmente prestando um serviço como profissional da área, mas também somando, também propondo, também construindo junto. E é claro que o resultado final não nos escapa como atores. A gente está emprestando também nosso corpo, nossa alma para aquele projeto. A gente afeta aquele projeto e também é afetado por ele. Eu gosto dessa maneira de fazer cinema.